"Prematuro tem maior risco de desenvolver infecção grave pelo VSR", alerta especialista

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 27/09/2011 às 1:04

"O Imip está preparado para cuidar das crianças com infecções causadas pelo VSR", diz a pneumologista pediátrica Patrícia Bezerra (Foto: Divulgação - Site stock.xchng)
Pneumologista pediátrica, Patrícia Gomes de Matos Bezerra, faz parte do grupo de experts do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), em Pernambuco.

Ela conversou com o Casa Saudável sobre a prevenção e o tratamento das infecções causadas pelo vírus sincicial respiratório (VSR).

Confira os destaques da entrevista:

- Casa Saudável: Podemos dizer que o VSR, pouco conhecido pela maioria das pessoas, é o principal agente de infecções respiratórias em crianças menores de um ano de idade?

- Patrícia Bezerra: Trata-se de um vírus que é uma das causas mais comuns de infecção grave das vias respiratórias inferiores (brônquios, bronquíolos e pulmões) em lactentes (menores de 2 anos), em todo o mundo. Mesmo que a criança seja saudável, o vírus tem a capacidade de inflamar as vias respiratórias, provocar tosse e falta de ar de graus variáveis, levando à hospitalização. Tivemos a oportunidade de realizar uma pesquisa no Imip com 407 crianças, entre zero e cinco anos, com infecção respiratória aguda. O VSR foi detectado sozinho ou em associação com outros agentes infecciosos em 37,3% dos casos. Como único agente isolado, o VSR foi encontrado em 43,3% das infecções.

- Casa Saudável: O VSR está por trás das pneumonias e bronquiolites?

- Patrícia Bezerra: O vírus é realmente um dos principais agentes associados às bronquiolites, doença que se inicia como resfriado e que, após cerca de três dias, o lactente inicia chiado no peito e falta de ar. Em estudo publicado pelo Lancet em 2010, foi estimada a ocorrência de aproximadamente 33,8 milhões de infecções respiratórias, em 2005, associadas ao VSR em crianças abaixo de 5 anos mundialmente. Destas, cerca de 3,4 milhões necessitaram de hospitalização.

- Casa Saudável: Prematuros têm um risco maior de ter infecções causadas pelo VSR, em comparação aos bebês que nascem no tempo normal de maturação?

- Patrícia Bezerra: O bebê prematuro tem maior risco de desenvolver infecção grave pelo VSR e ser hospitalizado. Outras crianças que têm esse risco aumentado são as que apresentam doenças cardíacas congênitas e displasia broncopulmonar, doença que afeta os pulmões dos recém-nascidos prematuros. Entretanto, observa-se que mais de dois terços das crianças hospitalizadas com infecção pelo VSR e 80% das mortes a ele atribuídas ocorrem em crianças sem nenhum fator de risco - isto é, saudáveis.

- Casa Saudável: Qual o quadro desenvolvido por esse vírus?

- Patrícia Bezerra: A infecção pelo VSR geralmente se inicia com tosse e coriza, podendo ou não ser acompanhada de febre. Por volta do terceiro dia de doença, o lactente desenvolve chiado no peito e falta de ar. Nos casos graves, que precisam ser hospitalizados, ocorre a queda da oxigenação no sangue.

- Casa Saudável: É correto dizer que o VSR é um vírus do inverno?

- Patrícia Bezerra: Nos países de clima frio e temperado, a infecção pelo VSR ocorre com maior frequência nos meses de inverno. No Brasil, não existem estudos com bebês prematuros comparando todos os Estados do País. Portanto, não podemos afirmar que a ocorrência dessa infeção é menor em Pernambuco. No estudo feito em Recife, observamos que o VSR foi detectado com maior frequência nos meses chuvosos. 

- Casa Saudável: Como as infecções por VSR podem ser controladas? Tratado, o bebê infectado pelo VSR corre o risco de ficar com sequela?

- Patrícia Bezerra: Ainda não há uma medicação antiviral específica para o VSR. O tratamento envolve o uso de oxigênio e, ocasionalmente, broncodilatadores. O ideal é que a criança infectada pelo VSR não entre em contato com outras crianças, principalmente as prematuras e com problemas de coração. Os profissionais de saúde que prestam assistência aos recém-nascidos não devem estar com gripes ou resfriados, e a lavagem rigorosa das mãos deve ser realizada antes e depois do atendimento. Nas infecções leves pelo VSR, as crianças ficam sem nenhuma sequela. Nos casos mais graves, elas podem desenvolver quadros crônicos de chiado no peito, o que requer acompanhamento especializado. O Imip está preparado para cuidar dessas crianças.

 - Casa Saudável: Qual o papel do palivizumabe diante da prevenção das doenças graves causadas pelo VSR?

- Patrícia Bezerra: O palivizumabe tem se mostrado eficaz em reduzir hospitalizações em crianças de risco. Esse tipo de prevenção é muito caro, embora os estudos demostrem que o palivizumabe é custo-efetiva nos grupos de crianças de alto risco. A Sociedade Brasileira de Pediatria, por sinal, recomenda o uso dele em alguns casos. Alguns Estados como São Paulo e Rio de Janeiro aprovaram normas técnicas que garantem o uso gratuito do palivizumabe para as criancas de risco. Na rede privada, pode-se adquirir o produto. Mas ainda é um cenário inviável do ponto de vista finaceiro para a maior parte das famílias.

- Casa Saudável: Para os bebês prematuros, seguir corretamente o calendário de vacinação especial destinado a eles é uma alternativa e tanto para driblar várias doenças graves?

- Patrícia Bezerra: Com certeza. As vacinas atualmente disponíveis nos postos de saúde no Brasil protejem os bebês contra as formas graves de tuberculose, coqueluche, pneumonia, meningite, difteria, tétano, poliomielite, diarreia, sarampo, rubéola, caxumba e hepatite B.

* Não deixe de ler as duas outras matérias vinculadas a este especial sobre bebês prematuros:

Imunização adequada é capaz de barrar os inimigos dos bebês prematuros

Prematuros são pequenos guerreiros

Um abraço,