Imunização adequada é capaz de barrar os inimigos dos bebês prematuros

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 27/09/2011 às 1:56

Eles chegam antes do previsto, geralmente de surpresa e eventualmente de mansinho. Alguns, de tão pequeninos, cabem até numa caixinha de sapato.

Fragéis e guerreiros, podem se tornar pra lá de fortes caso recebam cuidados especiais quando chegam ao mundo.

Assim são os bebês prematuros, que carecem de aparatos e mimos especiais porque nascem com a saúde fragilizada, uma condição também chamada de imaturidade orgânica.

No Brasil, mais de 200 mil bebês nascem anualmente com menos de 37 semanas de idade gestacional, segundo dados do Ministério da Saúde.

Felizmente, as taxas de sobrevivência são cada vez mais altas. Na década de 90, a sobrevida do bebê prematuro era de 60%. Hoje, essa taxa chega a 95%. Além disso, esses recém-nascidos passam a contar com chances altas para se desenvolver de forma saudável.

Esse cenário se explica não apenas pelos avanços da medicina, mas principalmente pelo leque imenso de zelos que a família e o pediatra oferecem à criança. De nada adiantaria o aparato tecnológico, por exemplo, se os pais não levarem a sério o calendário de vacinação especial para os prematuros.

Para esses bebês, as mais recentes recomendações da Associação Brasileira de Imunizações (SBIM) incluem especificações para nove vacinas (clique aqui e confira o calendário especial). Quem recorreu a todas elas foi a menina Alice, que nasceu aos 8 meses de idade gestacional, com 1,360 g de peso ao nascimento, no dia 8 de junho de 2009.

"Ela ficou 17 dias na unidade de terapia intensiva neonatal (UTIN) e recebeu alta quando o peso chegou a 1,800 g. Além das vacinas, ela tomou um complemento de vitamina B e ferro até completar 1 ano", conta a mãe de Alice, a designer Carla Almeida, que se enche de alegria ao dizer que a garotinha, hoje com 2 aninhos, é muito saudável e não tem problemas de saúde.

"Minha filha tomou todas as vacinas recomendadas pelos médicos. Tomou algumas nos postos de saúde. Outras, em clínica particular. Mas não deixamos de imunizá-la", complementa Carla, que diz ter dedicado maiores cuidados à menina até os seis primeiros meses de vida.

"Não trato Alice com muita frescura. Ela brinca descalça, pega na areia, toma sorvete e se diverte como qualquer criança da idade dela", vibra a mãe. Quando deu a garota à luz, Carla havia perdido um bebê há um ano, que também nasceu prematuro e ficou entubado durante três meses.

"Quando perdi meu primeiro filho, escrevi um livrinho para ajudar as mães de prematuros. Foi uma forma de curar um pouco a dor que senti na época", diz a designer, que acrescenta: "Quando eles nascem antes do previsto, desarrumam todo o sonho encantado da maternidade e joga a gente rapidamente para a categoria de mães zelosas".

FURADINHAS DE OURO - De fato, a chegada de um recém-nascido antes do tempo esperado deixa as mães com olhos bem arregalados. Elas se tornam mais atentas, cautelosas e precavidas. E passam a aprender o valor de uma furadinha. Realmente, vale ouro a imunização contra as doenças sérias que podem se manifestar nos primeiros meses de vida de um bebê, especialmente daqueles que chegam ao mundo prematuramente.

Não à toa, a SBIM lançou recentemente a 2ª edição da campanha nacional Prematuro imunizado é prematuro protegido - ação apoiada pelo Instituto Abrace (pela organização não governamental formada por mães de prematuros) e pela Abbott.

A iniciativa, que ganha vida também no mundo online (www.prematuroimunizado.com.br) tem como propósito disseminar a ideia de que a prevenção de doenças infecciosas na infância é fundamental para driblar a mortalidade nessa faixa etária, em todo o mundo.

Inclusive, reduzir a mortalidade na infância é um dos objetivos de desenvolvimento do milênio (ODMs), que são metas pactuadas pelo Brasil e por outros 190 países membros das Nações Unidas para melhorar indicadores sociais, ambientais e econômicos. Essas tarefas foram estabelecidas em 2000 pela Organização das Nações Unidas (ONU) e devem ser cumpridas até 2015.

Para o País dar conta desse trabalho, a neonatologia (ramo da pediatria que se dedica ao estudo do recém-nascido até o 28º dia de vida) dá uma mãozinha. "Felizmente, estamos conseguindo salvar prematuros de peso muito baixo, ao redor de 700 gramas", informa o pediatra Eduardo Jorge da Fonseca Lima, coordenador dos programas de residência médica do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), em Pernambuco.

Ele ressalta que, após a alta da UTIN, muitos cuidados devem ser levados em consideração em prol da saúde dos bebês que vêm ao mundo antes do previsto. Entre as recomendações, segundo o médico, está a importância de os pais levarem a sério o calendário especial de vacinação, que contribui para evitar doenças nesses recém-nascidos tão espaciais.

"Durante a gestação, há passagem de anticorpos maternos (defesa contra as infecções) da mãe para o feto. Quando as crianças nascem antes das 37 semanas, esses anticorpos estão presentes em níveis mais baixos. É por isso que existe a necessidade de ser iniciada a imunização o mais precocemente possível", explica Eduardo Jorge.

VSR: DESCONHECIDO E PERIGOSO - Além de chamar atenção dos médicos e dos pais em relação à prevenção de doenças como influenza, tuberculose, hepatite B e pneumonia, a campanha Prematuro imunizado é prematuro protegido também insiste em conscientizar sobre a necessidade de mandar para bem longe as afecções causadas pelo vírus sincicial respiratório (VSR) e que são passíveis de prevenção.

Acredite: o VSR é o principal agente de infecções respiratórias em crianças menores de um ano de idade. Cerca de 15% dos prematuros (menos de 35 semanas) são hospitalizados em decorrência de infecções causadas por esse vírus.

O risco de complicações e a taxa de hospitalização devido à infecção pelo VSR também são dez vezes maiores entre os prematuros do que naqueles bebês nascidos de gestações completas.

E isso se explica porque aqueles que vêm ao mundo antes do previsto tendem a ter o aparelho respiratório imaturo e baixos níveis de anticorpos maternos.

No primeiro ano de vida, o VSR é o principal agente envolvido em bronquiolites e pneumonias, independentemente da condição sócio econômica.

"Esse vírus é uma das causas mais comuns de infecção grave das vias respiratórias inferiores (brônquios, bronquíolos e pulmões) em lactentes, que são aqueles menores de 2 anos, em todo o mundo", diz a pneumologista pediátrica Patrícia Gomes de Matos Bezerra, do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), em Pernambuco.

A médica complementa que, mesmo em uma criança saudável, o VSR tem a capacidade de inflamar as vias respiratórias, provocar tosse e falta de ar de graus variáveis, levando à hospitalização.

"Tivemos a oportunidade de realizar uma pesquisa no Imip com 407 crianças, de 0 a 5 anos, com infecção respiratória aguda. O VSR foi detectado sozinho ou em associação com outros agentes infecciosos em 37,3% dos casos", ressalta Patrícia. "Como único agente isolado, o vírus foi encontrado em 43,3% das infecções."

Para barrar o inimigo

A medicina conta com o palivizumabe, que é um anticorpo monoclonal específico contra o danado do VSR. Está indicado para prematuros e crianças de maior risco e deve ser aplicado nos meses de maior circulação do vírus (no Brasil, de março a setembro).

O palivizumabe, diga-se de passagem, é altamente recomendado para prematuros com idade gestacional menor de 28 semanas até um ano de idade, prematuros de 29 a 32 semanas até seis meses de idade, cardiopatas ou portadores de doença pulmonar crônica até dois anos de idade, desde que em tratamento clínico nos últimos seis meses.

É recomendado para prematuros de 32 a 35 semanas com até seis meses de vida que apresentem dois ou mais fatores de risco: criança institucionalizada, irmão em idade escolar, poluição ambiental, doenças neuromusculares e anomalias congênitas de vias aéreas.

Emprega-se a dose habitual de 15mg/kg de peso, aplicada por via intramuscular em até cinco doses mensais consecutivas durante a estação do vírus.?

* Não deixe de ler as duas outras matérias vinculadas a este especial sobre bebês prematuros:

Prematuros são pequenos guerreiros

“Prematuro tem maior risco de desenvolver infecção grave pelo VSR”, alerta especialista

* Saiba onde buscar mais informações sobre vacinação dos prematuros:

Associação Brasileira de Imunização

Sociedade Brasileira de Pediatria

Ministério da Saúde

Prematuro Imunizado

Um abraço,