"Algumas lesões causadas pelo cigarro são irreversíveis", alerta pneumologista

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 29/08/2011 às 0:12

Fumar é daqueles hábitos que não oferecem benefícios a ninguém. Só isto justifica a data de hoje: Dia Nacional de Combate ao Fumo (29/8), que tem como objetivo conscientizar a sociedade sobre as consequências negativas que o tabagismo pode trazer à saúde .

Quem fuma conta com o risco de desenvolver problemas respiratórios, diversos tipos de câncer, enfisema, bronquite, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e outras infecções respiratórias.?

Pneumologista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), José Roberto Jardim responde às principais dúvidas sobre o hábito de fumar.

Vamos conferir?!?

- Quais são as principais doenças pulmonares causadas pelo fumo?

Dr. Jardim: O cigarro contém uma série de substâncias nocivas à saúde e, por conta disso, as chances de um fumante desenvolver uma ou mais doenças são grandes. O hábito de fumar é responsável pelo desenvolvimento de doenças pulmonares como câncer, enfisema, bronquite crônica, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Todas essas enfermidades são mais graves com o passar dos anos para os fumantes. Além disso, o tabagismo piora enormemente a rinite. Doenças menos frequentes como a fibrose pulmonar também podem estar relacionadas ao tabagismo.

- São irreversíveis as lesões causadas pelo cigarro?

Dr. Jardim: No caso dos prejuízos trazidos pela bronquite crônica, se as lesões já estão avançadas, mesmo que o fumante deixe de fumar, os traumatismos não regridem. As lesões como enfisema são irreversíveis. Uma pequena percentagem de pacientes com câncer de pulmão sobreviverá à doença. Os problemas causados pelo cigarro, como as doenças respiratórias, podem ser cuidados com tratamentos específicos. Além disso, para uma solução mais efetiva, é importante que o fumante interrompa o uso do cigarro o mais rápido possível, a fim de evitar mais consequências à saúde.

- Quem fuma mais: os homens ou as mulheres?

Dr. Jardim: Ainda os homens. Mas eles têm largado o cigarro em maior proporção do que as mulheres. No Brasil, a proporção de fumantes do sexo masculino caiu de 20,2% para 17,9%, enquanto que o sexo feminino mantém a prevalência em 12,7%, de acordo com pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde, realizada de 2006 a 2010.

- Qual é o número de fumantes no Brasil?

Dr. Jardim: Chega a cerca de 25 milhões. E 17,9% dos homens e 12,7% das mulheres são tabagistas em nosso País. No Brasil, a cada 10 mortes de homens, oito são de fumantes. Já entre as mulheres, a cada 10 mortes, seis são de fumantes, de acordo com levantamento realizado pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca).

 

- Poderia explicar melhor a DPOC?

 

Dr. Jardim: Trata-se de uma doença progressiva que surge por conta da exposição excessiva dos brônquios (estrutura que levar o ar para dentro do pulmão) à fumaça tóxica do cigarro. Esse cenário causa danos às vias respiratórias, o que diminui a capacidade de respirar. Com o passar do tempo, é desenvolvida uma inflamação crônica nos brônquios e acontece a destruição da parede dos alvéolos pulmonares, responsáveis pela troca de gasosa no organismo.

- Quais são os principais sintomas da DPOC?

Dr. Jardim: Os mais comuns são tosse, produção excessiva de catarro e falta de ar, especialmente quando a pessoa realiza esforço físico. Há ainda uma limitação gradual às tarefas diárias. Estes pacientes apresentam maior facilidade de contrair infecções respiratórias. À medida que os anos passam e a pessoa segue fumando, a falta de ar evolui e, em uma fase grave da DPOC, é possível que algumas pessoas apresentem fraqueza no funcionamento do coração e má circulação, o que acarreta no aparecimento de inchaço nos pés e nas pernas.

- É possível tratar essa doença?

Dr. Jardim: Sim, hoje sabemos que pacientes com DPOC podem ter tratamento. A forma de prevenção contra a doença, sem dúvida, é evitar o cigarro. Agora, se a pessoa é fumante e já foi diagnosticada com DPOC, a primeira coisa a fazer é mudar os hábitos e apagar o cigarro da vida. O tratamento é realizado com medicamentos e reabilitação.

- E quais são essas medicações?

Dr. Jardim: A terapêutica medicamentosa inclui broncodilatadorese e anti-inflamatórios. Nos períodos das crises respiratórias, os pacientes sentem piora de falta de ar, fadiga e apresentam aumento da tosse crônica e da produção de catarro. Nessas situações, os pacientes podem ser tratados com antibióticos. Além disso, os portadores têm que se submeter à reabilitação pulmonar, que compreende uma série de intervenções como educação do paciente sobre a doença, uso de oxigênio suplementar para os casos mais graves, orientação sobre nutrição para os emagrecidos e obesos e, por fim, exercícios físicos para os membros superiores e inferiores.

* Com informações da Burson-Marsteller