Autismo e adolescência: pouquíssimos estudos abordam o transtorno nesta faixa etária

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 26/08/2011 às 1:41

Em março deste ano, eu fiz uma matéria sobre autismo que teve uma boa repercussão. Publicada no Jornal do Commercio, a reportagem mostrou que o transtorno atinge o desenvolvimento afetivo, social e cognitivo da criança.

Mas através de suporte familiar, psicopedagógico, terapêutico e medicamentoso, a criança e o adulto com autismo podem ganhar bem mais qualidade de vida.

Depois que o texto foi publicado, fiquei pensando como o autismo nos adolescentes e nos adultos é pouco divulgado. E essa minha reflexão está espelhada num levantamento realizado pela professora Fernanda Dreux M. Fernandes.

Ela é do Departamento de fisioterapia, fonaudiologia e terapia ocupacional (Fofito), da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM/USP).

Para a pesquisa, Fernanda analisou mais de três mil artigos publicados em revistas internacionais e nacionais sobre fonoaudiologia e autismo. Do total, apenas 56 versam sobre adolescentes, sendo somente três artigos brasileiros. E dos 1.356 referentes ao autismo, só 43 falavam sobre adolescentes.

DEMORA - De acordo com Fernanda, comumente (e lamentavelmente) o diagnóstico de autismo é feito em torno dos 7-8 anos. Outro cenário habitual é que as pessoas com o transtorno geralmente só são encaminhadas para o atendimento especializado e adequado no início da adolescência, especialmente nos casos em que as manifestações são menos intensas.

Muito frequentemente, o diagnóstico demora a ser feito devido a ausência de instrumentos e exames específicos para isso, dependendo principalmente da avaliação clínica feita pelo médico. Por outro lado, a superlotação do sistema de saúde muitas vezes faz com que haja pouco tempo para que o diagnóstico seja discutido.

Em maior ou menor grau, quem tem distúrbios do espectro do autismo possui dificuldades de desenvolvimento nas áreas de socialização, linguagem e comunicação, atividade imaginativa e cognição.

Mas conforta saber que estudos recentes indicam o poder da intervenção iniciada antes dos 5 anos, o que leva a resultados mais efetivos. Portanto, quanto mais cedo o diagnóstico e a iniciação do tratamento, melhor será para o paciente.

FIQUE POR DENTRO

- O autismo faz parte de um grupo de desordens do cérebro chamado de transtorno invasivo do desenvolvimento (TID), também conhecido como transtorno global do desenvolvimento (TGD).

- O distúrbio acomete 0,5% da população em geral. Se considerarmos todo o espectro autista, que inclui vários outros distúrbios da família do autismo em graus variados, esse percentual chega a 1%.

- Erroneamente, muita gente acha que o autismo só remete à imagem dos casos mais graves. Há, contudo, vários níveis dentro do espectro autista. Nos limites dessa variação, há desde casos com sérios comprometimentos do cérebro a casos com diversas habilidades mentais, como a síndrome de Asperger.

- Suspeita-se que gênios como Leonardo Da Vinci, Michelangelo, Mozart e Einstein eram portadores da síndrome de Asperger. Mas é preciso desfazer o mito de que todo autista tem um superpoder. Os casos de genialidade são raríssimos.

Clique aqui e leia outro post bem didático, publicado neste blog, sobre autismo.

Um abraço,