Linfoma, o câncer que acomete Gianecchini, é desconhecido pelos seus portadores

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 12/08/2011 às 12:10

Muito se tem falado sobre o linfoma diagnosticado no ator global Reinaldo Gianecchini.

Um comentário, contudo, despertou a minha atenção, no  Facebook do NE10: “Seu lindo, fofo e normal! Gente linda como ele também fica doente... E também sai sem maiores transtornos. Tem que ter fé!” (Nana e Rafael Barros).

A declaração de otimismo oferece a força solicitada por Gianecchini aos seus admiradores.

E desde a última quarta-feira (10/8), quando se anunciou que o ator está com o tipo não Hodgkin deste tipo de câncer, muitos fãs e demais internautas estão a pesquisar a  palavra linfoma na internet. Há mais de 20 tipos diferentes do linfoma não Hodgkin, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca).

Uma pesquisa realizada recentemente pela Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale), com 1.455 portadores de linfoma, mostrou que  falta informação sobre a doença.

Dos entrevistados, 86% nunca tinham ouvido falar do linfoma antes do diagnóstico. E cerca de 70% deles demoraram mais de três meses para iniciar o tratamento.

O linfoma, vale explicar, é uma forma de câncer que ataca os linfonodos (gânglios linfáticos), responsáveis por proteger o organismo de infecções. É o que informa a oncologista clínica Cristiana Tavares, do Serviço de Quimioterapia de Pernambuco (Sequipe) e do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC), no Recife.

Sobre o assunto, ela conversou com o Casa Saudável e deixou claro que não é possível fazer especulações sobre o estado de saúde de Gianecchini.

"Afinal, ele precisa se submeter a mais exames para se fechar um diagnóstico completo e indicar o tratamento adequado para o subtipo de linfoma que ele apresenta", diz Cristiana.

Quando detectado em estágio precoce, o linfoma pode ser erradicado com tratamento adequado. "A terapia que mais aumenta a chance de cura e qualidade de vida dos dos pacientes com linfoma não Hodgkin é a quimioterapia, usada em 90% dos casos. Também é eficaz o uso de medicamentos chamados de anticorpos monoclonais, que agem diretamente no tumor", salienta a médica.

O objetivo do tratamento é a destruição das células malignas, induzindo à remissão completa - ou seja, o desaparecimento de todas as evidências da doença. A remissão é atingida pela maioria dos pacientes e, dessa maneira, é uma doença com altas chances de cura.

Além disso, Cristiana Tavares acrescenta que há subtipos de linfoma que não têm cura. "Geralmente, são aqueles com que as pessoas convivem muito tempo e que são menos agressivos. Por incrível que pareça, os mais agressivos, quando diagnosticados precocemente, têm chance alta de cura", explica.

Quando a quimioterapia não surte o efeito esperado nos casos mais graves, pode-se indicar o transplante de medula óssea, também sugerido quando já se tem um doador compatível.

É importante informar que o principal sintoma do linfoma é o inchaço indolor dos linfonodos (conhecido popularmente como íngua) no pescoço, nas axilas ou na virilha. Outros sinais também comuns ao linfoma são febre, suor (geralmente à noite), cansaço, dor abdominal, perda de peso, pele áspera e coceira.

Em alguns casos, é possível que a doença seja descoberta somente durante um exame médico de rotina ou enquanto o paciente esteja sob tratamento de uma condição não relacionada ao tumor.

A incidência do linfoma não Hodgkin aumenta progressivamente com a idade. Em torno de 4 casos/100.000 indivíduos ocorrem aos 20 anos de idade. A taxa de incidência aumenta 10 vezes, passando para 40 casos/100.000 indivíduos com 60 anos e mais de 20 vezes, chegando a 80 casos/100.000 indivíduos após os 75 anos de idade.

CAUSAS E RISCOS - A incidência anual de linfomas praticamente dobrou nos últimos 35 anos. Não se sabe ao certo quais são as razões para esse aumento. Verifica-se um aumento aparente de incidência do linfoma em comunidades predominantemente agrícolas. 

"Investigam-se as causas químicas. Estudos associam a utilização de agrotóxicos à ocorrência do linfoma. É um fato, contudo, que merece ser melhor estudado", frisa Cristiana.

"Pessoas que convivem com doenças autoimunes e alguns tipos de viroses crônicas também têm mais risco de desenvolver linfoma do que indivíduos sem essas enfermidades", complementa a oncologista.

Ainda assim, é fundamental informar que esse tipo de câncer pode aparecer em quem não tem fator de risco e que muitas pessoas com supostos fatores de risco nunca contraem a doença.

EVOLUÇÃO DO TRATAMENTO - Após a confirmação do diagnóstico, a extensão da doença deve ser determinada. "É o que chamamos de estádio ou estadiamento, observado através de exames como tomografia computadorizada", diz Cristiana Tavares.

Concluídos todos os procedimentos, o médico determina quais são as áreas envolvidas pelo linfoma e determina o tipo e a duração do tratamento.

O linfoma não Hodgkin pode ser classificado em quatro estádios:

* Estádio 1 - Quando há envolvimento de um grupo de gânglios linfáticos em uma área restrita do corpo ou quando um único órgão ou local é afetado sem o envolvimento de gânglios linfáticos

* Estádio 2 - Quando há envolvimento de mais de um grupo de gânglios linfáticos, acima ou abaixo do diafragma, ou quando está afetado um único órgão ou local com gânglios linfáticos adjacentes do mesmo lado do diafragma

* Estádio 3 - Quando há envolvimento de gânglios linfáticos, várias localizações, podendo ser no mesmo lado do diafragma. Quando há envolvimento de gânglios do mediastino (dentro do tórax)

* Estádio 4 - Quando estão afetados os gânglios e outros órgãos não considerados gânglios e denominados extranodais, como medula óssea, osso, coluna vertebral, sistema nervoso central.

# Matéria produzida a partir da consultoria da oncologista Cristiana Tavares (81 3414-7600 / www.sequipe.com.br) e de orientações da Abrale (www.abrale.org.br) e do Inca (www.inca.gov.br)