Armadilhas do amor desmedido, doentio e nocivo

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 04/07/2011 às 1:37

Vocês já ouviram falar em amor patológico? A definição, à primeira vista, soa estranha. Afinal, como um sentimento tão nobre como o amor pode ter relação com doença e morbidade?!?

Enfim, o amor patológico (AP) tem sido estudado cada vez mais por pesquisadores da área de saúde mental, especialmente psiquiatras e psicólogos. Alguns experts chegam a definir essa atração doentia como um novo transtorno psiquiátrico.

Várias pesquisas atuais se referem ao AP como um comportamento obsessivo-compulsivo em relação ao parceiro. Outros estudos alegam que o problema em questão se caracteriza como dependência de amor - um subtipo do transtorno de personalidade dependente.

Importante frisar que, nos estágios iniciais do AP, da mesma forma como ocorre com o usuário experimental de cocaína ou qualquer outro estimulante, esse padrão de relacionamento proporciona alívio da angústia. Quem é portador do AP dificilmente enxerga (ou prefere ignorar) que o companheiro não o faz bem.

Bom frisar que esse comportamento patológico de se relacionar pode acometer homens e mulheres. Por causa de características culturais facilitadoras, contudo, acredita-se que o AP é particularmente mais comum na população feminina.

Como mostra o estudo Amor patológico: um novo transtorno psiquiátrico?, fruto de uma revisão de literatura feita por especialistas do Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso (Amiti) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), assim como ocorre com o dependente químico que inicia o uso da "droga de escolha", o portador de amor patológico acredita que o parceiro trará significado para a sua vida.?

"Em termos psicológicos, a essência dessa patologia parece não ser amor, e sim medo de estar só, de não ter valor, de não merecer amor, de vir a ser abandonado", escrevem os autores do artigo, publicado pela Revista Brasileira de Psiquiatria, em março de 2007.

Como mostram os pesquisadores, o quadro do AP pode estar presente em outros transtornos psiquiátricos, associado a sintomas depressivos e ansiosos, ou pode ocorrer isoladamente, em pessoas com personalidade vulnerável, que inclui baixa autoestima, sentimentos pervasivos de rejeição, de abandono e de raiva.

Para vários especialistas no tema, o AP é a caracterizado pelo comportamento repetitivo e sem controle de prestar cuidados e atenção ao parceiro, com a intenção (nem sempre revelada) de receber afeto e evitar sentimentos pessoais de menos valia. Para que exista o AP, é importante considerar que a relação doentia é mantida pelo indivíduo, mesmo após concretas evidências de que o relacionamento está sendo prejudicial para a vida dele e de membros da família.?

Para quem convive com o amor patológico, recomenda-se procurar ajuda de terapeutas, psiquiatras e grupos de autoajuda, como o "Mulheres que amam demais anônimas" (Mada). Trata-se de um programa de recuperação para mulheres que têm como meta a recuperação da dependência de relacionamentos destrutivos, aprendendo a se relacionar de forma saudável consigo mesma e com os outros.

Clique aqui e conheça os endereços do Mada em diversas cidades brasileiras

Características de uma mulher que ama demais:

- Vem de um lar desajustado, em que suas necessidades emocionais não foram satisfeitas

- Como não recebeu um mínimo de atenção, tenta suprir essa necessidade insatisfeita através de outra pessoa, tornando-se superatenciosa, principalmente com homens aparentemente carentes

- Como não pode transformar seus pais nas pessoas atenciosas, amáveis e afetuosas de que precisava, reage fortemente ao tipo de homem familiar, porém inacessível, que tenta transformar através do amor

- Com medo de ser abandonada, faz qualquer coisa para impedir o fim do relacionamento

- Quase nada é problema, toma muito tempo ou mesmo custa demais se for para "ajudar" o homem com quem esta envolvida

- Habituada à falta de amor em relacionamentos pessoais, está disposta a ter paciência e esperança, tentando agradar cada vez mais

- Está disposta a arcar com mais de 50% da responsabilidade, da culpa e das falhas em qualquer relacionamento

- Possui autoestima criticamente baixa e, no fundo, não acredita que mereça ser feliz. Ao contrário, acredita que deve conquistar o direito de desfrutar a vida

- Como experimentou pouca segurança na infância, tem uma necessidade desesperadora de controlar seus homens e seus relacionamentos. Mascara seus esforços para controlar pessoas e situações, mostrando-se "prestativa"

- Está muito mais em contato com o sonho de como o relacionamento poderia ser do que com a realidade da situação

- Ao ser atraída por pessoas com problemas que precisam de solução, ou ao se envolver em situações caóticas, incertas e dolorosas emocionalmente, evita concentrar a responsabilidade em si própria

- Tende a ter momentos de depressão e tenta previni-los através da agitação criada por um relacionamento instável

- Não tem atração por homens gentis, estáveis, seguros e que estão interessados nela. Acha que esses homens "agradáveis" são enfadonhos

* Fonte: Robin Norwood, no livro Mulheres que amam demais. Em 2010, a publicação já chegou à 33ª edição, disponibilizada através da Editora Benvirá (304 páginas, R$ 50). No livro, a psicóloga Robin Norwood reconheceu no relato de suas pacientes e em sua experiência pessoal um grave transtorno afetivo, que ela nomeia de síndrome do amar demais, um comportamento afetivo obsessivo.?

* Também é da mesma autora o livro Meditações diárias para mulheres que amam demais (Editora Rocco, 400 páginas, R$ 48). Nele, Robin Norwood oferece dicas que têm o objetivo de ajudar a controlar as emoções para se recolocar a vida nos eixos. A publicação traz um conselho para cada dia do ano, dentro da filosofia de que uma longa caminhada é feita passo a passo. A ideia é preservar a sanidade, a serenidade e o senso de humor durante o doloroso processo de desenvolver um modo mais saudável de viver e amar.

* Outras sugestões de leitura:

- Como as mulheres amam (Editora Ideias e Letras, 176 páginas, R$ 32,50)

- Mulheres certas que amam homens errados (Editora Gente, 171 páginas, R$ 32,90)

- Hades: Homens que amam demais (Editora Isis, 184 páginas, R$ 26)