Esclerose múltipla: Claudia Rodrigues conversa com o Casa Saudável

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 25/05/2011 às 0:30

No início da noite de ontem, peguei o celular para dar uma palavrinha com a atriz Claudia Rodrigues, que está de volta ao Zorra Total (TV Globo), revivendo a tão divertida personagem Ofélia. O motivo da minha ligação não foi conversar sobre a retomada do papel da TV. Batemos um papo muito educativo sobre esclerose múltipla (EM), cujo dia mundial é lembrado hoje (25/5).

Quando disse que sou jornalista, do Recife, Claudia logo se animou e não economizou nos confetes ao falar da cidade. Até a filha dela, a pequena Iza (9 anos), curiosa, logo perguntou: "É uma moça do Recife?". Aí, Claudia logo contou que a menina também ama a capital pernambucana.

Seguindo com a conversa, a atriz me contou que atualmente convive muito bem com a EM, enfermidade que acomete cerca de 30 mil pessoas no Brasil (deste número, aproximadamente 22 mil são mulheres) e que tem origem desconhecida. A doença, que afeta o sistema nervoso central, atinge geralmente adultos jovens, especialmente mulheres.

Ela é um exemplo de que uma doença crônica e degenerativa pode ser encarada sem estigmas. "A gente não deve se diminuir porque tem esclerose múltipla", disse Claudia, ao mostrar que o tratamento adequado e o diagnóstico precoce da enfermidade são armas fundamentais para controlar os sintomas da EM, viver com qualidade de vida, ter vida social e profissional.

"Fiquei um tempo afastada do trabalho porque senti necessidade de cuidar mais de mim. Mas estou de volta", contou a atriz, que recebeu o diagnóstico da doença há 11 anos. "Sentia um cansaço imenso, passei a ter o raciocínio lento e a ter falta de memória. Em algumas situações, eu não tinha fluência verbal. Ou seja, não encontrava a palavra certa durante uma conversa."

Mas foi a dormência no braço esquerdo, enquanto estava em atuação na peça Monólogos da vagina, que chamou a atenção dela. "Aí, o pessoal da produção achou que eu estivesse infartando. Fui a um hospital em São Paulo e disseram que não era nada. Só recebi remédio para relaxar e dormir."

Passados uns três dias, ainda com a dormência no braço e na mão, ela foi a uma clínica no Rio de Janeiro, onde recebeu o diagnóstico. "Quando o médico disse que eu sou portadora de esclerose múltipla, logo pensei que tinha várias doenças por causa do nome. Fiquei muito chateada e só depois de um tempo é que passei a compreender melhor a situação", relatou Claudia.

É comum os pacientes reagirem com estranhamento ao receber a confirmação de que têm EM. Segundo uma pesquisa da Bayer Schering Pharma, feita com 650 portadores de 12 países, inclusive do Brasil, cerca 80% dos pacientes se sentiram ansiosos e confusos no momento do diagnóstico.

Entre os maiores medos, foram relatados invalidez (65%) e dependência intensa da família (61%). Em relação à carreira, cerca de 60% dos entrevistados ficaram preocupados com a capacidade de executar o trabalho.

É por esse motivo que vale esclarecer que, embora a esclerose múltipla ainda não tenha cura, pode ser controlada com tratamento adequado. Ao seguir corretamente uma terapêutica, as chances do paciente adiar bastante as consequências da enfermidade são altas.

A EM se caracteriza, em linhas gerais, pelo fato de ser um problema inflamatório e autoimune do sistema nervoso central, que provoca dificuldades motoras, sensitivas e visuais. Por doença autoimune, entenda: é um problema que ocorre quando o nosso sistema de defesa passa a atacar tecidos do próprio corpo.

E para Claudia Rodrigues, em alguns aspectos ligados a estigma, dá para comparar a EM com outras doenças crônicas. "Quando não havia muitas informações sobre diabete, por exemplo, as pessoas costumavam ver seus portadores com pena e como coitadinhos. E hoje não é mais assim. Mas com a esclerose múltipla, lamentavelmente esse sentimento de pena ainda existe. Não é para ser assim", disse.

Hoje, a atriz consegue manter a doença sob controle. Há exatamente um ano, começou uma terapêutica com uma nova substância e se diz realizada. "Gosto de orientar a população em relação à doença e mostrar como é importante o diagnóstico precoce e o tratamento criterioso."

LEMBRETE: Você sabia que, neste sábado (28/5), Claudia Rodrigues participará de evento sobre EM que será transmitido, em tempo real, pela web? Clique aqui e saiba como acompanhar a discussão, que também contará com a presença da neurologista Renata Faria Simm. 

Abaixo, assista ao vídeo da Associação Brasileira de Esclerose Múltipla (ABEM)

Saiba mais sobre EM no site da Associação Brasileira de Esclerose Múltipla: www.abem.org.br

DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO - A detecção da EM, em fases iniciais, ainda é difícil porque existe uma série de doenças inflamatórias e infecciosas que pode ter sintomas semelhantes ou iguais ao da esclerose múltipla. Para fechar (ou não) o quadro, o médico faz uma análise dos sintomas relatados pelo paciente e solicita exames físicos e neurológicos.

Algumas pessoas com EM podem apresentar formigamento, fraqueza, dor, ardor e prurido nos braços, nas pernas, no tronco ou na face. Por vezes, aparecem sintomas psicológicos como alterações do estado de ânimo, confusão, euforia e quadros depressivos. Já os problemas cognitivos incluem distúrbios de memória, compreensão alterada e falta de atenção.

Mas somente um médico especialista é capaz de analisar os sinais de cada pessoa para dar (ou não) o diagnóstico da esclerose múltipla.

"O início do tratamento com o uso dos imunomoduladores, logo após o primeiro surto da doença, é uma tendência mundial", afirma o médico neurologista Roberto Carneiro de Oliveira, do Hospital São Luis, em São Paulo.

Para o especialista, essa intervenção terapêutica precoce permite um melhor controle da EM, pois é possível evitar a exacerbação do sistema imunológico. O tratamento precoce com o uso de imunomoduladores está associado à melhora da função cognitiva em pacientes com até dois anos de diagnóstico da doença.

Por outro lado, os pacientes que não aderem a um tratamento adequado tendem a evoluir de forma mais rápida para um estágio degenerativo da EM. "Esse quadro pode levar à perda da capacidade motora e ao prejuízo das funções cognitivas, entre outros problemas", enfatiza Roberto. Ou seja, a terapêutica deve ser mesmo levada a sério.

DATA - O Dia Mundial da Esclerose Múltipla (25/5) tem como objetivo alertar e conscientizar a sociedade sobre sintomas, procedimentos e opções de tratamento para a doença. Neste ano, o tema a ser discutido é empregabilidade, considerada lastimável no Brasil pelo presidente da Federação Brasileira de Associações Civis de Portadores de Esclerose Múltipla (Febrapem), Wilson Gomiero.

"Entre os principais desafios para os portadores de EM, está a importância de provar que são capacitados para exercer qualquer função, sendo recorrente, em alguns casos, o desenvolvimento de algum tipo de deficiência de diversos níveis", explica Gomiero, cujo diagnóstico de EM foi dado em 1989. Nesses casos, ele complementa que pode ser utilizada a Lei de Cota para pacientes que se candidatarem a cargos profissionais.

O presidente da Febrapem reforça que é importante esclarecer que não há restrições para exercer atividades profissionais por pessoas com esclerose Múltipla. O próprio paciente, segundo ele, consegue determinar as atividades que não consegue executar. "É preciso quebrar a ideia de que se trata de uma doença ligada à demência ou que, em 100% dos casos, os portadores ficarão totalmente incapazes", frisa.

* Confira o que o Casa Saudável já publicou sobre esclerose múltipla:

- Esclerose múltipla: internautas poderão assistir a evento com Claudia Rodrigues

- Esclerose múltipla não é demência

- Esclerose múltipla: informe-se sobre a doença

- Tudo sobre esclerose múltipla num só clique

- Esclerose múltipla ganha primeira medicação oral

- Evento abordará temas relacionados à esclerose múltipla

* Fontes consultadas: Manual Merck de informação médica – saúde para a família (Editora Roca, 2009, 1944 páginas), conteúdos da WN&P Comunicação (assessoria de imprensa da Merck) e da Burson-Marsteller (assessoria de imprensa da Bayer Schering Pharma). Para saber mais sobre o Dia Mundial da Esclerose Múltipla, acesse: worldmsday.org. E neste link do site da Febrapem, conheça a lista de associações de EM em todo o Brasil: https://goo.gl/qCzPE