Pílulas anticoncepcionais com drospirenona em discussão

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 16/05/2011 às 5:00

No dia 21 de abril deste ano, o periódico British Medical Journal (BMJ) publicou dois estudos que deixaram de orelha em pé uma leva imensa de mulheres. As investigações alegaram que quem usa anticoncepcionais orais com um componente chamado drospirenona (um hormônio similar à progesterona que o corpo produz) tem um risco duplicado de desenvolver episódios de tromboembolismo venoso (TEV).

Que se abra um parêntese: TEV é uma sigla usada para descrever o bloqueio do fluxo de sangue dentro de um vaso sanguíneo por um coágulo. Esse problema apresenta duas manifestações distintas: a trombose venosa profunda (caracterizada pelo formação do coágulo na veia profunda da perna, coxa ou pelve) e a embolia pulmonar, definida por casos em que o trombo cai na circulação sanguínea e segue em direção aos pulmões.

Dependendo do grau de obstrução nos órgãos, os sinais podem variar desde respiração mais curta a contratempos graves, inclusive fatais. Diante disso, uma mulher totalmente leiga em medicina e que usa pílula com drospirenona pode entrar em pânico.

Antes de tomar um susto e parar de tomar o anticoncepcional sem pestanejar, uma conversinha com o ginecologista tranquiliza muito. É ele quem vai usar uma bagagem científica para orientar bem em relação aos estudos recém-publicados. Se for o caso, o médico pode até suspender o contraceptivo. Mas só mesmo uma observação clínica pode acalmar as mulheres nesse sentido.

Como já disse no começo deste post, o BMJ trouxe dois estudos sobre mulheres que usam contraceptivos orais que contêm drospirenona. Elas foram comparadas com outras mulheres que usam pílulas anticoncepcionais com levonorgestrel.

O resultado dos levantamentos do periódico, como informei, foi o seguinte: aquelas que tomam pílula com drospirenona possuem risco aumentado de desenvolverem TEV, em comparação com as participantes do estudo que usam pílula à base de levonorgestrel.

Vamos compreender: para inibir a ovulação e consequentemente impedir a gravidez não desejada, uma das alternativas é juntar os hormônios estrógeno e progestógeno num mesmo comprimido. A drospirenona e o levonorgestrel são dois tipos de progestógenos que se combinam a um estrógeno para evitar a concepção.

A farmacêutica Bayer HealthCare possui duas pílulas de baixa dosagem com drospirenona: Yasmin e Yaz são os nomes fantasias delas. Ambas atuam (especialmente Yaz) não apenas para promover a contracepção, mas também para diminuir os efeitos da famigerada tensão pré-menstrual (TPM).

Por ser similar ao hormônio feminino que o organismo produz, a drospirenona favorece a diminuição da retenção de líquido, evita as cólicas, o inchaço e o aumento de peso, além de melhorar os sintomas emocionais como irritabilidade e depressão. A drospirenona também auxilia na redução da acne e do excesso de oleosidade da pele e dos cabelos.

Há muitas mulheres brasileiras que, há uns cinco anos, usam com responsabilidade e indicação médica as pílulas com drospirenona - e nunca tiveram efeitos adversos moderados ou graves. Será que tudo isso agora vai por água abaixo?!? E como as agências reguladores de medicamentos deverão se posicionar? As respostas, acredito, devem vir com o passar do tempo. Enquanto isso, vamos tirar todas as dúvidas com nossos ginecologistas.

 

A título de informação, vamos ver a posição oficial da farmacêutica que produz anticoncepcionais com drospirenona:

"A Bayer HealthCare Pharmaceuticals tem conhecimento dos dois estudos publicados no British Medical Journal – BMJ e, dado o grupo já grande de evidências científicas, na opinião da empresa, os estudos não mudam a avaliação global sobre a segurança dos contraceptivos orais produzidos pela companhia.

A Bayer reafirma que o grupo geral de evidências científicas apoia que o risco de desenvolvimento de TEV nas mulheres que usam contraceptivo oral combinado (COC) com drospirenona é comparável a outras combinações de pílulas anticoncepcionais estudadas, incluindo aquelas que contêm levonorgestrel.

Os COC's estão entre os medicamentos mais estudados e utilizados atualmente. Os contraceptivos orais da Bayer continuam a ser bastante estudados no mundo inteiro.

A Bayer apoiou vários estudos de segurança independentes e de grande escala sobre o uso de COC, incluindo o estudo EURAS e o Ingenix, que abrangeram mais de 120 mil mulheres. Os protocolos desses estudos foram analisados pelas autoridades reguladoras, tanto na Europa (EMEA) quanto nos EUA (FDA). Esses estudos demonstram consistentemente que o risco de TEV com drospirenona é comparável ao risco observado em outros progestágenos, incluindo levonorgestrel.

Todas as pílulas anticoncepcionais do mercado - e de todos os fabricantes - podem elevar o risco de TEV, mas este é um evento raro entre as mulheres que usam contraceptivos orais combinados.

De acordo com relatório da CPMP (EMEA), o risco de TEV por 100 mil mulheres/ano é de 5 a 10 casos entre as não usuárias de pílulas, 60 casos durante a gravidez e 20 a 40 casos entre as usuárias de pílulas. Desta forma, fica evidente que a mulher corre menos risco de desenvolver TEV quanto utiliza uma pílula anticoncepcional do que durante a gravidez."

Mensagem que vale ser considerada

Eis, então, um recado importante: todo medicamento, incluindo qualquer pílula anticoncepcional, só deve ser usado sob orientação médica. Além do mais, medicações possuem contraindicações, o que não seria diferente com os contraceptivos orais combinados. Só para citar alguns exemplos, mulheres fumantes ou portadoras de doenças cardíacas ou hepáticas não devem usar pílulas desse tipo.

Mas sempre existiram as usuárias ideais e que se beneficam com os anticoncepcionais orais. Portanto, antes de começar a tomá-los ou de parar de tomá-los, faz-se absolutamente necessária uma consulta com um médico - de preferência, um ginecologista.

E vamos continuar a acompanhar a repercussão desta discussão tão importante para a saúde feminina.