Doença celíaca só é tenebrosa quando não controlada

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 15/05/2011 às 0:42

Bom dia! :)

Neste domingo (15/5), o Casa Saudável continua a se dedicar à orientação de várias questões importantes que envolvem bem-estar e qualidade de vida. Hoje, por exemplo, vamos aproveitar que é o Dia Internacional do Celíaco para aprendermos detalhes sobre a doença celíaca, que ainda é pouco conhecida e tem sintomas geralmente confundidos com os de outras enfermidades.

 Embora não existam números oficiais, estima-se que há cerca de 300 mil celíacos no Brasil, de acordo com a Associação dos Celíacos do Brasil (Acelbra). Um estudo realizado recentemente pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) também traz outro dado: há um celíaco em cada grupo de 214 moradores da capital paulista.

Faço questão de informar que este post foi inspirado na sugestão e nos e-mails educativos que recebi da jornalista Dani Acioli, mãe de Theo, 6, que recebeu o diagnóstico da doença celíaca quando tinha 2 aninhos. A história deles, com a qual podemos aprender muito, será apresentada no decorrer deste texto.

Para quem não tem a mínima ideia do que seja a enfermidade, eis uma definição básica: trata-se da intolerância permanente ao glúten, uma proteína presente na semente de muitos cereais. O transtorno geralmente se manifesta na infância, até os três anos. De qualquer maneira, o distúrbio pode dar as caras em qualquer idade, inclusive na vida adulta.

O tratamento da doença celíaca é baseada numa dieta totalmente isenta de glúten. Ou seja, os portadores não podem ingerir alimentos (em suas versões tradicionais) como pães, bolos, bolachas, macarrão, coxinhas, quibes e pizzas - nem mesmo beber cerveja e algumas marcas de uísque e vodca.

(Clique aqui e baixe o "Guia orientador para celíacos", editado em 2010, de autoria da Federação Nacional das Associações de Celíacos do Brasil)

É essencial o celíaco seguir uma dieta de restrição ao glúten. É assim que se garante qualidade de vida. No Brasil, a lei 10.674/2003 obriga os fabricantes de alimentos a informar na embalagem se os produtos contêm ou não o glúten. No entanto, ainda suspeite de falhas na fiscalização dessa lei por acreditar que alguns alimentos não trazem essa especificação e outros são contaminados pela proteína em questão no processo de fabricação.

Agora, vamos entender o que danado a intolerância ao glúten faz com o organismo do celíaco: essa inoportuna proteína (pelo menos, para os protadores da doença) provoca irritação na parede do intestino delgado e lesões intestinais. É isso que prejudica a absorção de nutrientes provenientes da alimentação.

Se não identificadas e tratadas, as lesões aumentam e podem levar não só ao emagrecimento por causa dos graus variados de desnutrição, mas também à fraqueza, ao cansaço, à fadiga e à distensão abdominal.

Como esses sintomas podem aparecer em outras enfermidades, a doença celíaca não é facilmente diagnosticada na maioria dos casos. Sendo assim, muitas crianças e adultos com o problema tendem a fazer uma peregrinação em consultórios de profissionais de saúde de várias especialidades.

A detecção da doença celíaca, vale informar, é feita através da história clínica detalhada do paciente e da solicitação de testes específicos, como exame de sangue com perfil bioquímico completo, análises sorológicas para anticorpos antigliadina, antiendomíseo e antitransglutaminase.

Os médicos também solicitam outras investigações, como o teste de tolerância e absorção da lactose (proteína presente no leite) e o exame de trânsito intestinal, capaz de identificar alterações que levam a suspeitar da doença.

O procedimento que vale ouro, contudo, para um diagnóstico preciso é a biópsia feita através da endoscopia. Através dela, fragmentos das áreas suspeitas de lesão são retirados do intestino para o estudo fisiopatológico dos tecidos.

A HISTÓRIA DE THEO

A jornalista Dani Acioli é mãe de Theo, 6 anos, e de Nuno, 6 meses. O garotinho mais velho, que é uma gracinha e adora um ventilador (clique aqui e saiba por quê) foi diagnosticado com doença celíaca aos 2 anos. Assim que Theo deixou exclusivamente de mamar aos seis meses, a enfermidade ganhou passe livre no organismo porque ele começou a degustar os alimentos.

Dos sintomas até a detecção do distúrbio, passaram-se seis meses de angústia. Para a sorte da família, os sinais de Theo eram bem claros - e foi isso que evitou uma andança maior. "Ele apresentava abdome bastante distendido, glúteos com o músculo atrofiado, diarreia, fastio brabo, perda grande de peso, anemia profunda, irritação e parada no crescimento", conta Dani.

Para fechar o diagnóstico, o menino se submeteu a uma biópsia, que confirmou a doença celíaca e detectou a esofagite e o refluxo - ambos consequências da enfermidade.

Apesar das diversas dificuldades e do peso emocional enfrentados, Dani garante que seu "calvário", como ela mesma define, foi considerado bem menor do que a luta de boa parte dos portadores da doença celíaca. "E isso se deve muito à competência da pediatra de Theo, Neíse Montenegro, que indicou a gastropediatra Margarida Antunes, que é pesquisadora da doença no Estado de Pernambuco. Isso significa que meu filho ficou em boas mãos."

Como a doença celíaca é autoimune (enfermidades autoimunes, diga-se de passagem, ocorrem quando o nosso sistema de defesa passa a atacar tecidos do próprio corpo), Theo desenvolveu outro contratempo: problemas respiratórios.

"Hoje é bastante alérgico. Na verdade, quando a intolerância ao glúten foi descoberta, ele já estava com taxas altíssimas de alergia. E logo no início da dieta isenta de glúten, teve que cortar também a lactose", relembra Dani, que dispara elogios ao seu primogênito.

"Ele é uma criança muito esperta e tranquila. Nossa vida é bastante resolvida em relação a isso. E isso nos tranquilizou em relação à rotina alimentar, que mexe com tudo", conta a jornalista, explicando que a comida não é só fundamental à saúde física, mas dá uma estrutura à celebração social. "Comer e beber são ferramentas de socialização."

Para ficar por dentro de tudo sobre doença celíaca, a mãe de Theo não ficou parada: inscreveu-se na Associação dos Celíacos do Brasil (Acelbra), começou a pesquisar e a ler bastante. Afinal, informação também é remédio, concordam?!? "Ao invés de tratarmos Theo como especial, coloquei a isenção de glúten como regra da casa; diferente era quem comia alimentos com glúten."

Ela abraçou esse lema porque sabe que é fundamental a produção e o manuseio de alimentos e utensílios da cozinha ficarem longe do glúten. Além disso, ela escreveu uma espécie de tratado para toda a família explicando tim-tim por tim-tim as particularidades da enfermidade.

E para Theo não se sentir diferente na escola por causa de uma dieta sem glúten, Dani recebe o cardápio do lanche no início do mês e prepara diariamente uma guloseima especial para o garoto. "Faço de tudo e mais um pouco para que ele leve o equivalente ao lanche que está no cardápio."

Longe de querer fazer propaganda da marca, Dani brinca e se define a "mãe Tupperware" nas festinhas de aniversário. "Não saio de casa sem potinhos na bolsa. Sempre tenho lanches na bolsa. Para as festas, os lanchinhos viram brigadeiro, bolo e coxinha. Quando dá é assim. Quando não, ele desenrola com o que tem. Esse detalhe nunca é o mais importante."

Hoje, o garoto é acompanhado pela pediatra e anualmente faz uma visitinha básica à gastropediatra para fazer um check-up. E continua feliz da vida, apaixonado por ventiladores, como eu disse no começo da história desta família linda e cheia de saúde. :)

* Saiba mais:

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