Pesquisa inédita mostra que diabéticos desconhecem a hipoglicemia

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 13/05/2011 às 1:48

A hipoglicemia, um contratempo que pode ser comum entre os portadores de diabete e que se caracteria pelos baixos índices de glicose no sangue, é desconhecida por muitas pessoas que convivem com a doença.

Esse foi um achado de uma pesquisa inédita, feita no Brasil e na Europa, divulgada na última quarta-feira (11/5) em um webmeeting aberto a um grupo restrito de jornalistas.

O estudo, que mostrou a necessidade de melhorar a comunicação entre médicos e pacientes que convivem com diabete tipo 2, contou com a participação de 200 portadores da enfermidade e de 75 endocrinologistas e diabetologistas em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Salvador, em Belo Horizonte e em Curitiba.

A investigação mostrou que 20% dos pacientes não sabem as causas da hipoglicemia. Já 37% disseram que o problema ocorre por causa de determinados tipos de medicamentos usados no tratamento do diabete tipo 2, enquanto que 36% alegaram que a baixa de glicose no sangue pode acontecer quando se deixa de almoçar.

A pesquisa também revelou que 29% dos entrevistados já vivenciaram episódios de hipoglicemia no trabalho e que 17% tiveram o problema durante a prática de exercícios físicos. Preocupa saber que esses participantes do estudo relataram que não costumam conversar com seus médicos sobre o assunto.

Ainda entre os portadores de diabete, metade afirmou que a hipoglicemia tem impacto significativo na sua qualidade de vida, e 49% disseram ficar extremamente preocupados ou muito preocupados com a possibilidade de experimentar um episódio desse contratempo no futuro.

Desmaios (47%), convulsões (40%) e perda de consciência (39%) foram apontados como os três problemas mais importantes relacionadas à hipoglicemia.

É importante alertar que a hipoglicemia interfere diretamente na adesão ao tratamento e nas atividades do dia a dia. Os episódios, vale frisar, podem causar visão turva ou dupla, confusão mental, cefaleia, sonolência, fraqueza, tontura, desmaios, batimento cardíaco acelerado e transpiração. Como se tudo isso não bastasse, a queda brusca e intensa da glicemia pode levar a consequências graves - entre elas, o coma e os danos neurológicos.

Na prática clínica, os médicos confirmam que se deparam com pacientes que costumam manter a glicemia mais elevada apenas para evitar a hipoglicemia. "O problema é que, com o tempo, o alto índice de açúcar no sangue pode levar a complicações degenerativas importantes da diabete", avisa o endocrinologista Saulo Cavalcanti, presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD).

Entre esses distúrbios citados pelo médico, estão a retinopatia (doença inflamatória e degenerativa da retina) e a neuropatia (lesões inflamatórias no sistema nervoso). "Infelizmente, muitos portadores preferem correr esse risco a ter que vivenciar episódios de hipoglicemia", acrescenta Saulo.

O grande desafio para os médicos, segundo o endocrinologista, é fazer com que o tratamento seguido pelos pacientes possa reduzir a glicose no sangue sem gerar hipoglicemia. "Houve um avanço significativo nesse quesito com o surgimento de uma nova classe de medicamentos e a descoberta da sitagliptina, medicação cujos estudos demonstram eficácia no controle da glicose sem os inconvenientes da hipoglicemia", ressalta.

Países europeus - A investigação na Europa contou com 404 entrevistas de pacientes e 250 médicos da França, da Alemanha, da Itália, da Espanha e do Reino Unido. As causas de hipoglicemia são desconhecidas para muitos pacientes:

- 54% não sabiam que o excesso de exercícios pode ser uma das causas

- 53% não sabiam que pode ser causada por determinados medicamentos usados no tratamento da diabete tipo 2

- 45% não sabiam que deixar de tomar o café da manhã pode causar hipoglicemia

- 22% acreditavam que não havia nada que seu médico pudesse fazer para ajudá-los.

Quase um terço (32%) dos pacientes pesquisados respondeu que não discute sobre hipoglicemia com seu médico e praticamente metade (43%) dos portadores afirmou que está extremamente preocupada ou muito preocupada com a possibilidade de apresentar um episódio futuro de hipoglicemia.

"A hipoglicemia pode ser um problema grave para os pacientes com diabete. É importante que eles se sintam à vontade para discutir o problema com o médico", afirma o professor Michael Nauck, diabetologista e chefe do Diabeteszentrum, Bad Lauterberg (Harz, Alemanha). "Através de um controle cuidadoso, o risco de hipoglicemia pode ser reduzido em muitos pacientes."

Embora muitos dessas pessoas que convivem com diabete tipo 2 estejam familiarizadas com os principais sintomas de hipoglicemia (66% reconhecem a tontura e 59% identificaram a transpiração como sintomas), algumas equivocadamente acreditam que outros sintomas podem ter relação com a queda anormal de açúcar no sangue. Quase 50% citaram sede, enquanto que 26% mencionaram aumento da frequência urinária - ambos os sinais são associados à hiperglicemia, que é o nível elevado de glicose na corrente sanguínea.

Um breve resumo sobre hipoglicemia

A hipoglicemia, ou nível reduzido de açúcar no sangue, ocorre quando a glicemia fica muito abaixo das necessidades do organismo. Essas ocasiões podem se manifestar quando o portador da diabete não segue um tratamento adequado (uma boa terapêutica inclui não só o uso correto de medicação e insulina, como também prática de exercícios físicos de forma orientada e alimentação balanceada) e nem faz acompanhamento criterioso das taxas de glicose.

Os sintomas da hipoglicemia podem variar de leves a graves. Esses sinais incluem cefaleia, sonolência, fraqueza, tontura, confusão, irritabilidade, fome, batimento cardíaco acelerado, transpiração e agitação.

Episódios recorrentes de hipoglicemia podem reduzir a adesão de um paciente ao ao tratamento medicamentoso. Isso tende a acontecer porque muitos portadores declararam não estar seguros sobre as instruções para o manejo da hipoglicemia e, portanto, sentem maior dificuldade de seguir os programas terapêuticos.