Santa versus Sport: seu coração suporta a adrenalina na finalíssima?

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 09/05/2011 às 0:02

Cenário do almoço de ontem, do Dia das Mães, no shopping: meu pai ansioso para conferir, ao vivo e a cores, o jogo que fez o Santa Cruz dar passos importantes para tomar a frente na finalíssima deste domingo (15/5), que vale a taça do Campeonato Pernambucano 2011.

Ao lado, meu irmão mais novo, 11 anos, que não foi à Ilha do Retiro, comia apressado a sobremesa para chegar em casa a tempo e torcer com unhas e dentes pelo tricolor. E o meu outro irmão, mais velho, que mora em São Paulo, deve ter roído todas as unhas. Rubros-negros, minha irmã e meu cunhado, também na capital paulista, devem ter tido um piripaque com o resultado de ontem (8/5).

No fim das contas, os tricolores relaxaram porque a cobra deixou o leão todo enrolado com o placar de 2x0 e finalmente ficou perto do título estadual. Mesmo longe de gostar de futebol, eu adorei o resultado, que fez papai e meus irmãos apaziguaram os ânimos e a excitação provocada por um estresse comum entre os torcedores.

Convenhamos que toda essa adrenalina deve ser muito gostosa e, até certo ponto, saudável. Torcer, vestir a camisa do time, reunir os amigos e soltar o grito de "gol" preso na garganta são atitudes que deixam qualquer torcida em êxtase. Mas é bom alertar que tanta euforia pode ser uma faca de dois gumes: o misto de disposição física e emocional, durante as partidas de futebol, pode fazer os espectadores passarem por condições que aumentam o risco de problemas cardiovasculares.

E essa alerta não é novo, mas faço questão de relembrar neste auge do campeonato estadual. O aviso foi dado em 2008, por um artigo publicado no conceituado periódico The New England Journal of Medicine. Intitulado Cardiovascular events during World Cup Soccer, o estudo foi feito durante a Copa do Mundo da Alemanha, em 2006, e analisou até que ponto o estresse emocional favorece a incidência de eventos cardiovasculares.

Torcida do Sport puxa o grito de guerra "casá, casá" para reanimar o time (Foto: Arnaldo Carvalho/JC Imagem)

Para conduzir a pesquisa durante o campeonato, 11 pesquisadores investigaram os serviços de emergência da cidade de Munique.

Quiseram saber quantas pessoas foram atendidas com diagnóstico de infarto agudo do miocárdio, angina (doença que se manifesta por forte dor torácica), arritmia ou parada cardíaca. Os estudiosos compararam esses resultados do mundial com os episódios de problemas no coração em períodos antes da Copa.

Vamos aos resultados: os problemas cardiovasculares acima citados foram verificados em 4.279 pacientes. Nos dias em que os jogos foram disputados por times estrangeiras, sem a participação da equipe alemã, o número de atendimentos nas emergências foi o mesmo do relatado durante os períodos antes da Copa.

Nos dias em que a Alemanha jogou, no entanto, a incidência de problemas cardiovasculares aumentou em média 2,66 vezes. E mais: a maior ocorrência de contratempos foi observada nas primeiras duas horas após o início de cada partida.

A conclusão dos pesquisadores foi a seguinte: se assistir a uma partida estressante de futebol mais que duplica o risco de problemas cardiovasculares, é importante os torcedores tomarem precauções. E isso deve ser levado a sério especialmente pelos homens que já convivem ou passaram por problemas no coração.

Ou seja, diante da fraqueza do time nas partidas, os torcedores que já têm uma doença cardiovascular e ficam elétricos (intensamente agitados ou nervosos) devem começar a pensar se vale mesmo a pena ficar tão agitado e ansioso enquanto a bola rola em campo.

* Clique aqui e leia post do Casa Saudável que detalha as doenças cardiovasculares