Sem temor para aniquilar os transtornos alimentares

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 07/02/2011 às 14:30

A neura que nasce por causa de uma imagem corporal distorcida tem se tornado uma epidemia nas sociedades ocidentais, como bem mostra a médica Ana Beatriz Barbosa Silva, no seu livro Mentes insaciáveis (Editora Ediouro, 251 páginas). Hoje, está muito claro para a ciência e a medicina que essa percepção corporal irreal é um terreno fértil para a manifestação de desvios do comportamento alimentar, como anorexia e bulimia - considerados os distúrbios alimentares mais comuns.

"Esses transtornos têm a grande maioria de seus casos entre pessoas do sexo feminino, sobretudo as adolescentes e as adultas jovens, que representam mais e 90% dos casos de anorexia e bulimia", escreve Ana Beatriz. Esse relato da especialista condiz com os achados de uma pesquisa inédita no Estado de Pernambuco, desenvolvida pela professora Ana Márcia Cavalcanti, do Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e do Adolescente (PPGSCA) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

O estudo mostrou que crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos, que possuíam peso normal, afirmaram estarem insatisfeitos com sua imagem física e demonstraram vontade de emagrecer. Entre esses, os resultados foram significativamente maiores nos adolescentes do sexo feminino.

Segundo a pesquisadora, trata-se de problemas que vêm de uma interação entre fatores biológicos, familiares, sociológicos e socioculturais, que podem determinar uma situação distorcida entre o indivíduo e o comportamento alimentar. É assim que podem se desenvolver problemas como anorexia, bulimia e transtorno do comer compulsivo (TCC).

A pesquisa, orientada pelos professores Alcides Diniz e Ilma Kruze, revelou que, no Recife, o consumo de bebidas alcoólicas é um dos principais fatores de risco para a anorexia, a bulimia nervosa e o TCC.

Perfeccionismo

O estudo mostrou que o número de estudantes com transtorno do comportamento alimentar (TCA) é maior em escolas particulares, onde se concentra um público de classe média alta e também onde há uma maior valorização à beleza. "É plausível que a baixa autoestima vivenciada por esses adolescentes desempenhe um papel preponderante nesse comportamento de risco", alerta a professora.

A criança e o adolescente com TCA podem nutrir deformações em suas curvas de crescimento, atraso ou interrupção do desenvolvimento puberal. São pessoas que tendem a ter ainda uma necessidade obsessiva pelo perfeccionismo, exatidão e simetria.

No trabalho, diga-se de passagem, a autora afirma que a estrutura familiar colabora diretamente para o desenvolvimento ou não dos transtornos alimentares. A pesquisa revelou que, entre as condições para a ocorrência do comer compulsivo, a percepção do peso corporal da mãe é bastante significativa.

Os pais que dão uma ênfase demasiada ao exercício físico, que recompensam a magreza ou manifestam desprezo por pessoas obesas criam um cenário propício para os filhos desenvolverem os TCAs. Da mesma maneira, aqueles que omitem refeições continuamente ou comem quando estão aflitos são péssimos modelos.

"Temos que impedir que essas crianças vulneráveis tornem-se adultos doentes. É preciso identificar precocemente os estudantes que apresentam risco de desenvolver os TCAs e aplicar uma política de conscientização de uma alimentação saudável", finaliza Ana Márcia.

* Com informações da UFPE