Não dá para pensar em saúde sem saúde mental

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 06/02/2011 às 0:29

Ontem à noite, revi amigos com os quais não encontrava há um tempo. O bate-papo foi gostoso e, entre uma conversa e outra, a turma entrou num debate sobre preço de medicamentos. Nessa ocasião, uma das meninas comentou que utiliza um dos antidepressivos citados. Houve quem ficasse espantado e perguntasse (com repulsa) a razão de ela tomar um remédio dessa classe.

E ela respondeu: "Uso porque preciso. Uso porque faço acompanhamento psiquiátrico. O meu médico analisou o meu caso e viu que seria necessário o antidepressivo".

Fiquei surpresa com o argumento incisivo dela. Pensei que ela fosse passar na tangente, sentir-se ofendida e ficar paralisada. Mas não; ela mostrou que, do mesmo jeito que a gente cuida do corpo, também precisa tomar conta da nossa mente quando preciso - seja através de psicoterapia isoladamente ou de psicoterapia associada a um tratamento medicamentoso orientado por psiquiatra.

Infelizmente, ainda hoje, quando algumas pessoas dizem que são avaliadas frequentemente por um psiquiatra, recebem um olhar espantoso e uma reação preconceituosa. Tratar um problema mental e as angústias trazidas por ele não tem nada de anormal. Maléfico é conviver uma doença mental fingindo que não a possui e, por isso, não procurar ajuda médica e/ou terapêutica.

Nesse sentido, acredito ser interessante relembrar o lema do 27º Congresso Brasileiro de Psiquiatria, realizado em São Paulo, em 2009: "não há saúde mental sem psiquiatra e não é possível pensar em saúde sem saúde mental". Gosto muito desse raciocínio porque sei o valor que ele tem. Lamentavelmente, a maioria da população não pensa assim, pois acha que procurar apoio psiquiátrico é vergonhoso porque demonstra fraqueza. Nada disso; o psiquiatra não é um bicho-papão.

Mas por que será, então, que alguns consultórios psiquiátricos têm uma porta para o paciente entrar e outra para o paciente sair? E por que será que, na entrada e na saída, ninguém vê ninguém? Pode ser que tenha relação com alguma corrente psiquiátrica... De qualquer maneira, vejo essa situação como uma maneira que reforça ainda mais o estigma que circunda a doença mental. Parece que o fato de os pacientes não se cruzarem evita fuxico e interpretações nocivas. E não deveria ser assim, né?!? Não é um transtorno mental que tirará o valor de uma pessoa.

Assim, costumo dizer que, se a população passar a refletir sobre o acompanhamento psiquiátrico e psicológico como uma alternativa de enorme valia para controlar nossas angústias, pensamentos negativos e inquietudes, a saúde mental do ser humano será bem mais equilibrada e com bem menos ruídos na esfera emocional.