"Muitos cirurgiões-dentistas prescrevem antibióticos sem necessidade", diz especialista

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 30/01/2011 às 13:24

A resolução 44/10 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que proíbe a venda de antibióticos sem receita por profissionais habilitados, terá pouco impacto na área odontológica, caso os cirurgiões-dentistas continuem a prescrever esses medicamentos de forma abusiva.

O alerta foi do professor de farmacologia, anestesiologia e terapêutica da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (Unicamp) Eduardo Dias de Andrade, durante o Congresso Internacional de Odontologia do Centenário da Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas (APCD), que termina nesta terça-feira (1º/2), em São Paulo.

Durante o evento, ele abriu um debate sobre o uso de antibióticos na prevenção ou tratamento das infecções bacterianas. "No planejamento de uma cirurgia, em pacientes assintomáticos e imunocompetentes, muitos colegas, por insegurança ou medo, prescrevem antibióticos de forma profilática por sete ou até 10 dias para prevenir uma infecção da ferida cirúrgica", disse Eduardo. Ele enfatiza que, na maioria das vezes, esse procedimento é desnecessário e inadequado.

"Se o profissional tomar as medidas corretas de assepsia e antissepsia, além de empregar técnicas cirúrgicas adequadas, o risco de infecção pós-operatória é muito baixo", acrescentou Eduardo Dias de Andrade. Em contrapartida, os efeitos adversos dos antibióticos podem ser mais danosos que a própria infecção. Os problemas gastrintestinais são os mais frequentes, como dor de estômago, náuseas e diarreia, mas também há risco de reações alérgicas, inclusive choque anafilático.

Segundo Eduardo, o cirurgião-dentista pode prescrever os antibióticos por duas razões distintas: para prevenir (uso profilático) ou tratar as infecções (uso curativo). Há situações nas quais o paciente precisa tomar antibióticos de forma profilática para evitar o risco de infecções em outros tecidos do organismo, como é o caso dos diabéticos.

Por outro lado, a prescrição de antibióticos para tratar as infecções bucais deve ser avaliada com muito cuidado. "A principal conduta no tratamento de uma infecção bucal é a intervenção local, através da drenagem de abscessos, instrumentação periodontal ou descontaminação do sistema de canais radiculares. Os antibióticos são apenas coadjuvantes a estes procedimentos", conclui o especialista.

* Com informações da Lu Fernandes Comunicação e Imprensa