Sérgio Palma faz alerta contra hanseníase e detalha campanha da SBD/PE

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 23/01/2011 às 16:53

Presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia/Regional Pernambuco (SBD/PE), o dermatologista Sérgio Palma vem se empenhando há uns meses para a realização da Campanha da Hanseníase 2011 em Pernambuco, cujas atividades acontecem nos dias 2 e 5 de fevereiro. De acordo com ele, com base no Boletim Epidemiológico das Grandes Endemias no Recife 2009-2010, a capital pernambucana tem 52,1% dos bairros considerados hiperendêmicos para hanseníase. Ou seja, possuem incidência significativa.

E em 2010, no Estado de Pernambuco, foram diagnosticados 836 casos novos de hanseníase  - destes, 85 casos em menores omde 15 anos de idade. Para mais detalhes sobre a campanha e esta doença que acomete o homem desde 600 anos a.C, o Casa Saudável publica a entrevista completa com Sérgio Palma, que ajudou na produção da matéria sobre o tema publicada publicada hoje na Revista JC.

- Em Pernambuco, esta será primeira campanha anual da hanseníase promovida pela SBD/PE?

Ações em alusão ao Dia Mundial de Combate à Hanseníase, sempre lembrado no último domingo de janeiro, ocorrem anualmente em todos os Estados do Brasil, desenvolvidas pelas coordenações do Programa Nacional de Controle da Hanseníase no país (PNCH). Em 2011, será a primeira campanha da hanseníase desenvolvida pela Sociedade Brasileira de Dermatologia/PE, em parceria com as coordenações municipal e estadual do PNCH.

- A expectativa é atender quantas pessoas no dia 5 de fevereiro, no consultório médico na Praça do Diário?

Estamos programando uma média de 500 atendimentos nos três consultórios montados na Praça do Diário, no bairro de Santo Antônio. O atendimento será realizado por dermatologistas da SBD/PE com experiência em hanseníase e terá como objetivo fazer a detecção precoce de novos casos e conscientização da população sobre a doença. Realizaremos distribuição de fôlderes explicativos sobre hanseníase com a população que passará nas imediações da Praça do Diário. Além disso, serão montados telões para projeção de filme que mostra o que é a hanseníase, enfocando sinais clínicos principais, modo de transmissão, informações sobre o diagnóstico e principalmente que existe tratamento e cura para a hanseníase.

- E no dia 2 de fevereiro, como serão as atividades?

Para as ações deste dia, mais de 200 médicos que trabalham nos Programas de Saúde da Família no Estado, e que fazem atendimento a pacientes com hanseníase, participarão do Fórum de Atualização em Hanseníase. O evento tem como meta oferecer o aprimoramento de conhecimentos direcionados ao assunto. Essas atividades envolvem profissionais de saúde da Prefeitura do Recife, do Estado de Pernambuco e dermatologistas da SBD/PE envolvidos com hanseníase.

- Popularmente, é correto ainda chamarmos hanseníase de lepra?

A hanseníase é uma das mais antigas doenças que acomete o homem. As referências mais remotas datam de 600 anos a.C. e procedem da Ásia, que pode ser considerada o berço da doença, ao lado da África. Nessa época, era conhecida como lepra e carregada de grande estigma social, isolando portadores da doença do convívio social e familiar. Atualmente, aboliu-se o termo lepra e, dessa maneira, orientamos a população para o fato de que a hanseníase é uma doença que hoje apresenta tratamento e cura. Isso tira o peso do nome lepra e sua associação com uma doença incurável.

- Quais são os principais sintomas da doença e a faixa etária atingida com mais frequência?

As primeiras manifestações da doença caracterizam-se por manchas claras ou róseas com dormência ou ausência de sensibilidade. Geralmente, há perda dos pelos na lesão. As lesões evoluem para placas com contornos infiltrados formando lesões circulares, anulares ou circinadas. Nas formas multibacilares, com a multiplicação dos bacilos, ocorre resposta inflamatória originando lesões de formas variadas formando pápulas ou tubérculos com tamanhos variados e infiltração da pele, quando ocorre na face denominada face leonina. A faixa etária mais atingida é a de adultos em fase produtiva, sendo menos frequente em menores de 15 anos devido o longo período de incubação, sendo um problema de saúde pública no nosso País. Mas em áreas endêmicas, é preocupante a detecção de novos casos em menores de 15 anos de idade, adotado atualmente pelo governo brasileiro como principal indicador de monitoramento da endemia para transmissão ativa da doença, já que significa que essas crianças adoeceram recentemente. Devemos lembrar que a hanseníase tem alto potencial incapacitante pelo comprometimento neural quando em formas avançadas. Nesses estágios, é possível levar a deformidades e a incapacidades quando diagnosticada tardiamente.

- Por que a doença se manifesta? Qual é a causa e quem está suscetível a essa enfermidade?

A hanseníase é uma doença infectocontagiosa crônica causada por um bacilo, o Mycobacterium leprae. É um parasita intracelular que infecta a pele e os nervos periféricos. O ser humano é reconhecido como a única fonte de infecção, sendo a principal via de eliminação dos bacilos dos pacientes multibacilares a via aérea superior, sendo também, o trato respiratório a mais provável via de entrada do M. leprae no corpo. Ou seja, a tosse, o espirro, a coriza e a saliva de pacientes multibacilares que não estão em tratamento formam o principal modo de contaminação.Felizmente, como em outras doenças infecciosas, a conversão de infecção em doença depende de interações entre fatores individuais do hospedeiro, ambientais, domiciliar e do próprio bacilo. Todos estamos suscetíveis à infecção, mas o pior quadro é encontrado em domicílios e abrigos onde um grande número de pessoas convivem no mesmo espaço intradomiciliar sem adequadas condições sanitárias e de ventilação.

- Existem muitas pessoas que têm a doença e nem desconfiam?

É muito frequente o diagnóstico tardio pela confusão inicial com alguns diagnósticos diferenciais, como as impingens e pano branco, doenças causadas por fungos, e a dermatite atópica, que é a alergia da pele, bem como o desconhecimento de muitos profissionais médicos do polimorfismo das lesões de hanseníase. É comum os pacientes chegarem usando corticoides tópicos ou antifúngicos que mascaram ou agravam as lesões.

- Como é o tratamento e quando se pode alcançar a cura atravês de uma terapêutica bem conduzida?

O tratamento da hanseníase é oferecido gratuitamente pela rede pública a todo paciente diagnosticado com hanseníase. Ele é notificado, por se tratar de uma doença de notificação compulsória, e submetido a um esquema de poliquimioterapia que pode durar de seis a doze meses, dependendo da sua classificação clínica operacional. Os remédios são entregues em cartelas com uma dose supervisionada mensal realizada no próprio ambulatório e doses diárias autoadministradas em casa. O tratamento leva à cura do paciente e, quanto mais precoce o diagnóstico e o início do tratamento, evita o potencial incapacitante da hanseníase pelo comprometimento neural que pode levar a neuropatias periféricas, deformidades e incapacidades.

- O percentual de portadores da doença tem diminuído?

Levantamento do Ministério da Saúde aponta que os casos novos de hanseníase caíram em mais de 30% nos últimos seis anos. Em 2005, o coeficiente de detecção geral por 100 mil habitantes foi de 26,86. Já em 2009, foi de 16,72. A hanseníase apresenta tendência de redução de casos novos no Brasil nos últimos anos, mas as regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste ainda se mantêm em patamares de endemicidade, o que revela a necessidade de intensificação de ações para controle da doença, caso do nosso Estado. A SBD/PE mobiliza-se com as coordenações do PNCH de Pernambuco, em busca de mobilização social, esclarecimento e sensibilização de todos os profissionais da saúde envolvidos com o diagnóstico, tratamento, cura e inclusão social dos pacientes portadores de hanseníase.