Márcio Mancini fala sobre genética, metabolismo e obesidade

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 16/01/2011 às 13:44

Responsável pelo grupo de obesidade e doenças metabólicas do serviço de endocrinologia e metabologia do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), o médico Márcio Mancini colaborou para o desenvolvimento da matéria "Genética pesa na balança", publicada hoje (16/1) na Revista JC, do Jornal do Commercio. Aqui no Casa Saudável, confira a entrevista completa com o especialista.

- Como a genética e a hereditariedade podem influenciar o metabolismo, o ganho de peso e a tendência ao sobrepeso e à obesidade?

Hoje, com o estudo do genoma humano, sabemos que existem variações na sequência do DNA que fazem com que genes se manifestem de forma diferente entre as pessoas. Centenas de genes podem influenciar o metabolismo e o peso. Por exemplo, há variações do gene da grelina, um hormônio produzido no estômago que leva a aumento do apetite, que são mais frequentes em indivíduos magros que comem bastante e não engordam. Variações de um outro gene chamado FTO são mais comuns em pessoas com sobrepeso e obesidade. Variações gênicas podem fazer com que o apetite seja maior, com que existam ou não episódios de compulsão e com que o gasto calórico com atividade física seja maior em uma pessoa que na outra. Por isso, obesidade é uma doença chamada de poligênica, pois a interação de vários genes influencia a capacidade de ganhar ou perder peso.

- É possível um estilo de vida saudável modificar o poder dos genes relacionado ao sobrepeso?

Hoje, sabe-se que o excesso de lipídios na dieta pode reduzir a capacidade de queimar gordura em pessoas com variações do receptor adrenérgico beta-2, por exemplo. Mas o mais interessante é a chamada epigenética (efeito do ambiente no DNA). Indivíduos nascidos de mães que passaram fome durante a gestação ou indivíduos que passaram por períodos de privação de alimento, durante a infância, podem sofrer alterações na expressão gênica que favorecem ganho de peso futuro, além de doenças associadas ao ganho de peso.

- Qual o perfil dos pacientes que geneticamente são mais favoráveis ao sobrepeso e à obesidade?

Como a obesidade resulta no efeito de muitos genes, não há um perfil característico. Até mesmo a propensão a se exercitar pode ter influência genética. Para cada indivíduo, pode haver influência de vários genes em várias características.

- Por que o efeito sanfona é tão prejudicial?

Estudos em ratos demonstraram que ciclos de perda e reganho de peso reduzem a capacidade de queimar gordura, pioram o perfil de lipídios no sangue e aumentam o tamanho das células gordurosas. Ou seja, quanto mais efeito sanfona, mais fácil fica engordar no futuro. Em humanos, isso não está determinado. Há trabalhos que sugerem como a taxa de hormônios tiroidianos é menor nas pessoas que sofreram ciclismo do peso, enquanto grandes estudos epidemiológicos não mostraram diferenças em risco de doenças ou exames.

- É verdade que as nossas células de gordura nunca desaparecem do nosso organismo, mesmo quando eliminamos peso e mantemos por um determinado tempo?

Normalmente, as células aumentam ou diminuem de tamanho de acordo com o quanto acumulam de gordura (triglicérides) no interior. Antigamente, acreditava-se que o número de adipócitos era determinado na infância e na adolescência, mas hoje se sabe que, mesmo na idade adulta, eles podem proliferar.

- Como tratar essas pessoas que realmente têm a genética forte para o sobrepeso? Há casos em que esses pacientes realmente precisam de um acompanhamento intenso, com médicos e profissionais de saúde de várias especialidades?

Aqueles que têm a genética mais propensa a causar obesidade são os que necessitam de tratamentos mais rigorosos. Isso significa acompanhamento com endocrinologista e nutricionista, com eventual uso crônico de medicações, ou mesmo cirurgia bariátrica nos casos mais graves e resistentes ao tratamento clínico. Outros profissionais participam também do acompanhamento, conforme o caso, como educador físico, psicólogo e/ou psiquiatra, além de outros especialistas.

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