Cláudio Barnabé fala sobre relação entre genética, obesidade e exercícios

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 16/01/2011 às 13:43

O profissional de educação física Cláudio Barnabé, fisiologista da Academia Plataforma, é um dos profissionais que abrilhantam a matéria de hoje (16/1), da Revista JC, sobre genética da obesidade. Confira as reflexões dele sobre o assunto nesta entrevista bem didática.

- Como o exercício físico e um estilo de vida saudável podem influenciar o metabolismo e o mecanismo dos genes ligados ao sobrepeso e à obesidade? 

Obesidade e sobrepeso estão diretamente ligados ao estilo de vida. Pouco menos de 10% dos casos estão relacionados a distúrbios endócrinos. Quando se ingere mais do que se gasta, o organismo acumula gordura em seus "armazéns", os adipócitos. É esse desequilíbrio crônico entre ingesta e gasto que faz o indivíduo engordar. Estudos genéticos recentes mostram que para cada quilo de peso perdido, faz-se necessária a mesma quantidade de meses com esse peso. É o limiar individual de peso, que é quanto cada um tende a ter quando não está fazendo nenhum controle. A influência genética como causa de obesidade pode se manifestar através de alterações no apetite ou no gasto energético. Os exercícios podem plenamente diminuir o apetite através do aumento de temperatura corporal, ao avisar ao córtex da sua saciedade e aumentar o gasto energético aumentando o consumo de oxigênio durante e após as atividades. 

- É possível um estilo de vida saudável modificar o poder dos genes relacionado ao sobrepeso? Se sim, como deve ser a atividade física? É preciso se exercitar diariamente, com intensidade de moderada a intensa? Ou um exercício regular e contínuo, sem exageros, já resolve?

As atividades que mais aumentam o gasto energético acima do repouso são, sem dúvidas, as aeróbias. Porém, é um engano achar que só isso basta. Ouvir um aviso genérico "vá caminhar" pode ser fatal para uma pessoa sobrepesada, obesa ou simplesmente sedentária. Sem ter uma musculatura muito bem preparada para caminhar, logo virão os problemas de joelho e coluna (os mais comuns). Mesmo assim, ainda se escuta demais "vá caminhar". É um erro. Acho que autoprescrição de exercícios é tão perigoso quanto automedicação.

- Qual o perfil dos pacientes que geneticamente são mais favoráveis ao sobrepeso e à obesidade?

As pesquisas mostram que filhos de dois pais obesos têm entre 50% e 75% de chance de se tornarem obesos na vida adulta. Filhos de um deles obeso possui entre 40% e 50%. E quando nenhum dos dois é obeso, esse percentual é de apenas 25%. Assim, vê-se que há um componente comportamental na questão do sobrepeso e obesidade. Pessoas com menos massa muscular têm, consequentemente, menor metabolismo de repouso e menor condição de se submeter a atividades para aumentar o gasto energético e consumir toda a reserva dos adipócitos. Precisamos de politícas públicas de incentivo aos exercícios desde a mais tenra idade.

- O exercício ajuda a controlar o efeito sanfona, tão comum em que tem tendência ao sobrepeso e à obesidade?

É comum as pessoas pensarem apenas no gasto energético dispendido no momento dos exercícios. Porém, há um mecanismo ainda melhor,o chamado EPOC - sigla que significa o oxigênio consumido pós-esforço, o que mantém o metabolismo elevado por até 48 horas após atividades, dependendo do seu caráter e intensidade, seja aeróbia (corrida, caminhada ou glicolítica), musculação e/ou localizada. Dessa maneira, há um verdadeiro mecanismo de aumento do metabolismo (gasto energético), o que ajuda no combate ao efeito recidivante/sanfona.

- É verdade que as nossas células de gordura nunca desaparecem do nosso organismo, mesmo quando eliminamos peso através do exercício e da dieta e mantemos por um determinado tempo?

Sim, essas células são os adipócitos. Essas células passam por um mecanismo chamado de hiperplasia (crescimento no seu número) durante a adolescência, o que remete à obesidade indivíduos que foram obesos nessa fase e têm uma mudança nesse padrão muito árdua na fase adulta. Já os adultos que só engordaram depois da maturação biológica (adolescência), tiveram apenas uma hipertrofia dessas células (aumento apenas no tamanho) e, nesse caso, possuem uma menor predisposição a recidivas.

* Não leu a matéria completa, publicada na Revista JC? Clique aqui.