Difícil caminho para o tratamento da obesidade mórbida

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 07/01/2011 às 0:05

Não precisamos escrever muito para dizer que a obesidade cresce a cada ano no Brasil e, dessa maneira, o percentual de portadores da doença no País poderá se igualar aos dados aprentados pelos Estados Unidos. Caso medidas emergenciais não sejam adotadas, o número de obesos mórbidos crescerá de maneira acelerada.

Estudos nacionais e internacionais confirmam a eficácia da cirurgia bariátrica no tratamento da obesidade mórbida. No Brasil, contudo, muitos pacientes que necessitam da cirurgia não encontram o tratamento na rede pública de saúde. Um exemplo é o Rio de Janeiro, que não possui um único serviço de cirurgia bariátrica em funcionamento. Em outros grandes Estados, como São Paulo, os pacientes esperam durante anos para conseguir o atendimento.

No artigo abaixo, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) destaca a importância de sabermos quanto custa um paciente diabético ou obeso para os cofres públicos, a fim de que seja oferecido aos portadores um modelo terapêutico mais seguro.

Obesidade, diabete e tratamento

Por Mario Victor de Faria Nogueira, representante da SBCBM no Conselho Federal de Medicina, e Ricardo Vitor Cohen, presidente da SBCBM

A obesidade tem sido destaque nos principais veículos e comunicação do País devido à divulgação, pelo Ministério da Saúde (MS), de um estudo que mostra o sobrepeso e suas consequências, principalmente a diabete tipo 2, como um problema muito sério e que deverá ser atacado, caso o Brasil não queira se equivaler, em poucos anos, aos números americanos de obesos mórbidos.

A Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) vê com enorme preocupação a expansão desse dados, todos eles preocupantes. Apoia firmemente medidas de prevenção desse desastre, com atitudes de educação, mudança de estilo de vida e higiene dietética. Mas se admira que, nessas matérias, não se tenha tocado no tratamento da obesidade e da diabete já estabelecido, muito menos no seu tratamento cirúrgico.

Há, no estágio atual de conhecimento, consenso de que a obesidade mórbida é uma doença crônico-degenerativa cujo melhor tratamento é o cirúrgico, quando se compara as complicações da evolução da doença tratada clinicamente com os pacientes operados. Está além do escopo desse artigo, discutir a via de acesso e o tipo de operação.

Entretanto, diversos estudos mostram cabalmente que não só os doentes conseguem permanecer magros com mais facilidade, viver mais e não adquirem, ou interrompem, as afecções típicas da obesidade. Qualquer que tenha sido a técnica utilizada.

No caso específico do Rio de Janeiro, a situação é catastrófica, pois o cidadão que recorre aos hospitais públicos terá a oportunidade de ter seu pé amputado, mas não terá a possibilidade de evitar que isso aconteça, já que não há um único serviço de cirurgia bariátrica em funcionamento. Essa catástrofe é ainda pior quando nos deparamos com a diabete, pois seu tratamento cirúrgico é solenemente ignorado nos hospitais públicos fluminenses.

Pesquisa realizada pela SBCBM, entre agosto e novembro de 2009, mostra que o índice de massa corporal (IMC) médio dos diabéticos tipo 2 brasileiros é de 28,6kg/m2. São pacientes com pequeno sobrepeso em relação ao ideal, que é de até 25kg/m2. Ou seja, nem seriam considerados "gordinhos".

Segundo o estudo do MS, 5,8% dos brasileiros são diabéticos e essa taxa tende a subir. Falando assim, parece pouco, mas são 11,2 milhões brasileiros com a terceira causa de morte no Pais, atrás apenas das causas coronárias e cardiovasculares.

Aí, dá-se um fenômeno interessante, pois as complicações mais graves da diabete e da obesidade são as vasculares. Quantos desses infartos do miocárdio e acidentes cerebrais terão sido causados por diabete mal controlada e/ou obesidade mórbida? Vê-se, por esse ângulo, a enormidade do problema.

Na visão da SBCBM, os custos do tratamento cirúrgico seriam plenamente justificáveis se os nossos elaboradores de políticas de saúde soubessem ao certo quanto custa um diabético por ano e o impacto disso no orçamento dos indivíduos e do País.

Em estudo publicado esse ano, Tom C. Hall e colaboradores indicam que, no Reino Unido, as despesas de controle e tratamento da diabete e suas patologias relacionadas montam a 5% do orçamento do sistema de saúde britânico. Isso significa £ 3.500.000.000 ou R$ 9.297.400.000. Além disso, há os custos dos hospitais, das pessoas e dos serviços sociais.

Essa conta, astronômica, precisa ser feita por nós, de maneira que possamos avaliar com seriedade a possibilidade de oferecer um modelo terapêutico seguro, construído dentro de padrões éticos e científicos para milhões de cidadãos que são obesos (não por que querem ser) e ainda mais são diabéticos, ainda que não obesos.

* Target Consultoria em Comunicação Empresarial