Reflita: que exemplo Papai Noel transmite às crianças?

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 23/12/2010 às 1:58

Confesso: acho lindo uma criança que acredita no Bom Velhinho. Ainda não tenho filhos, mas alimentarei meus rebentos dessa fantasia, que faz tão bem ao universo infantil. Claro que o capitalismo em torno desse personagem não é positivo. Os pequenos, cada vez mais, pedem presentes caríssimos ao Papai Noel. Alguns adultos acabam cedendo e se esquecem da magia de ensinar às crianças a verdadeira história de Papai Noel, inspirado no bispo Nicolau, que viveu na cidade de Myra (Turquia) no século 4.

Segundo o Guia dos Curiosos, Nicolau costumava ajudar anonimamente quem estivesse enfrentando uma fase de dificuldades financeiras. Colocava o saco com moedas de ouro a ser ofertado na chaminé das casas. Foi declarado santo depois que muitos milagres lhe foram atribuídos.

E a imagem atual do Bom Velhinho é de 1876, quando o cartunista americano Thomas Nast retratou São Nicolau como um senhor gordinho de barbas brancas na revista Harper’s Weekly (extinta em 1916).

E não é que esse excesso de peso do personagem já levou uma leva de pesquisadores a acreditar que se trata de um exemplo ruim para a garotada? Ih, será?!? O que você acha?

Até um artigo já foi publicado sobre esse assunto. No dia 16 de dezembro do ano passado, o British Medical Journal trouxe o texto Santa Claus: a public health pariah?. De maneira epidemiológica, o artigo mostra como existe uma correlação entre os países que veneram Papai Noel e aqueles com alto índice de obesidade infantil. Poxa, achei essa relação tão profunda...

Não imagino até que ponto a figura do Bom Velhinho influenciaria nos hábitos alimentares dos pequenos, chegando a estimular a garotada a não seguir um cardápio equilibrado para ficar rechonchuda. O próprio artigo alega que, embora seja cedo para discutir mais sobre as causas dessa relação, existe mesmo a possibilidade de o personagem natalino promover uma mensagem de que a obesidade é sinônimo de alegria e jovialidade.

O texto ainda traz outras observações e conclui que os estudos em torno do Papai Noel vêm de um campo de desenvolvimento em saúde pública. Além disso, o artigo frisa que é necessária uma pesquisa mais ampla para que as autoridades possam tomar medidas capazes de regular as atividades ligadas ao Bom Velhinho.

A ideia é que o personagem, tão adorado pelas crianças, incentive comportamentos saudáveis. E o texto termina da seguinte maneira: "Propomos uma nova imagem do Papai Noel para garantir que sua influência diante da saúde pública seja positiva."

Bem, é uma observação que merece ser considerada. Afinal, foi publicada num jornal superconceituado. Mas enquanto as pesquisas sobre o poder do Bom Velhinho diante da saúde dos pequenos estão em desenvolvimento, cabe aos pais a tarefa de orientar os filhos sobre um estilo de vida saudável, caracterizado por uma alimentação equilibrada e atividade física. Mas se a criança estiver com a saúde em dia, nada impede de a ceia de Natal ter algumas guloseimas. Só não dá para fazer das iguarias natalinas um hábito.