Publicação traça rumos que devem ser criados diante do envelhecimento

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 18/12/2010 às 14:00

Cerca de 4,5 milhões de idosos terão dificuldades para realizar as atividades da vida diária (AVDs) nos próximos 10 anos. Esse número releva um aumento de 1,3 milhão, quando comparado ao contingente observado em 2008. Desses, 62,7% devem ser do sexo feminino - até porque a feminização da velhice tem sido uma realidade nos últimos anos.

Essa é uma das principais conclusões do livro Cuidados de longa duração para a população idosa: um novo risco social a ser assumido?, lançado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) na última quinta-feira (16/12), no Rio de Janeiro. Nesse sentido, vale abrir um parêntese: as AVDs incluem cuidados pessoais (alimentação, vestimenta, banho, medicação, interesse na aparência social), cuidados domésticos (preparação de refeições, arrumação da mesa, trabalhos de casa), recreação, uso do dinheiro, locomoção, comunicação e relações sociais.

Organizada pela coordenadora da área de população e cidadania do Ipea, Ana Amélia Camarano, a obra tem 352 páginas e foi lançada com a apresentação da mesa-redonda Cuidados para a população idosa: de quem é a responsabilidade? “Se a proporção de idosos com incapacidade funcional diminuir como resultado de melhorias nas condições de saúde e de vida em geral, provavelmente cerca de 3,8 milhões de idosos precisarão de cuidados de longa duração em 2020, um valor superior em 500 mil ao observado em 2008”, disse Ana Amélia.

(Leia o livro na íntegra clicando aqui)

A intenção da obra é contribuir para a discussão sobre os modelos que o Brasil pode adotar para fazer frente aos novos desafios do envelhecimento populacional e às mudanças mais amplas da sociedade. Segundo Ana Amélia, é urgente pensar uma política de cuidados de longa duração para a população idosa brasileira, inclusive porque a oferta de cuidadores familiares tende a se reduzir nos próximos anos.

A constatação da ausência de uma política estruturada e articulada de cuidados formais é o ponto de partida das reflexões. Hoje, a família desempenha o papel de cuidar de aproximadamente 3,2 milhões de idosos sem praticamente nenhum apoio seja do Estado ou do setor privado. A ação dos órgãos governamentais é mínima, reduzida à modalidade de abrigamento nas Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs), que geralmente têm apresentado infraestrutura e serviços escassos, além de profissionais pouquíssimo capacitados.

Sobre o livro, ainda vale dizer que o conteúdo é focado nas necessidades dos idosos mais frágeis e das famílias cuidadoras, como também no perfil das ILPIs. A obra coloca o leitor diante dos mitos, estigmas e estereótipos relacionados a essas instituições com base em pesquisas qualitativas que retratam a história de vida dos residentes das ILPIs no Estado do Rio de Janeiro.

A publicação parte do novo cenário demográfico (mais longevos na população brasileira) com quatro perguntas:

- Como ficará a autonomia dos idosos para as atividades da vida diária?

- A família brasileira continuará como principal cuidadora dos membros idosos?

- Quais são as alternativas de cuidado não familiar disponíveis no Brasil?

- Qual deverá ser a responsabilidade do Estado na provisão de serviços de cuidados para a população dependente?

A obra provoca também uma discussão necessária sobre cuidados paliativos e qualidade da morte. E o capítulo final apresenta a discussão indicada pelo título do livro. De quem é a responsabilidade de cuidar dos nossos idosos? De que forma o ato de cuidar pode ser partilhado entre família, mercado e Estado?

Um dos caminhos é entender esses cuidados como direito social, assim como a previdência, a saúde e a assistência, além de dissociá-los da noção vigente de filantropia e caridade cristã. Além disso, assume-se que essa responsabilidade deve também ser compartilhada entre esses três atores.

O livro organizado por Ana Amélia Camarano conta com a colaboração de Anita Néri, Claudia Burlá, Karla Giacomin, Maria Lúcia Lebrão, Yeda Duarte, Eloisa Adler, Ligia Py, Dália Romero, Solange Kanso, Juliana Leitão e Mello, Micheline Christophe, Maria Tereza Pasinato, George Kornis, Aline Marques, Danielle Fernandes Carvalho, Daniella Pires Nunes, Eduardo Camargos Couto, Ligiana Pires Corona, Ana Paula Barbosa e Raulino Sabino.

* Com informações do Ipea