Tratamento diário para a disfunção erétil chega ao Brasil

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 12/09/2010 às 14:34

No Brasil, mais de 40% dos homens com mais de 40 anos convivem com a disfunção erétil, caracterizada como a incapacidade em obter ou manter uma ereção satisfatória para uma relação sexual. Essa é uma estimativa da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), que ainda mostra como esse percentual sobe com o avançar da idade: cerca de 60% dos homens a partir de 60 anos apresentam algum grau de dificuldade de ereção, que aumenta progressivamente nos anos seguintes.

Em alguns casos, é necessário o uso de medicações para tratar o problema. Em linhas gerais, esses remédios devem ser tomados quando o homem sabe que terá uma relação sexual. E até a próxima quarta-feira (15/9), mais uma opção terapêutica estará disponível nas farmácias. Trata-se de uma medicação que deve ser tomada diariamente, capaz de driblar a impotência sexual dos homens.

Pois é, a ala masculina que convive com o problema terá como opção tomar um comprimido todos os dias e, dessa maneira, poderão manter relações sexuais em qualquer momento do dia ou da noite, quando o casal decidir, sem se preocupar com a disfunção erétil.

O fármaco que chega nessa versão é a tadalafila, que faz parte do grupo dos medicamentos que são realmente efetivos. Eles são os inibidores de uma enzima que existe no pênis (a fosfodiesterase tipo 5) e, por isso, promovem um relaxamento da musculatura lisa do órgão sexual masculino.

Sobre a tadalafila diária, conversei com o gerente médico Luiz André Magno, da Eli Lilly, farmacêutica que produz o remédio. Ele me disse que os estudos com o intuito de avaliar a eficácia da medicação nessa versão começaram entre 2003. "Enquanto o paciente tiver impotência sexual, ele poderá usar a tadalafila de forma contínua, desde que exista recomendação médica", informou Magno.

A versão diária do medicamento chega com 5 mg, diferentemente da opção com o mesmo princípio ativo que chegou primeiro no mercado, na dose de 20 mg, usada quando o homem programa (sabe que vai ter) a relação sexual. É importante destacar que a tadalafila e os seus concorrentes (sildenafila e vardenafila) só promovem a ereção peniana se o homem tiver desejo e estímulo sexual.

Ainda para conhecer mais a tadalafila diária e trazer detalhes para o Casa Saudável, entrevistei também o urologista Misael Wanderley Júnior. Ele me explicou que o remédio em questão, na dosagem de 20 mg (ou seja, não é o de uso diário), já pode ser prescrito para o tratamento da impotência da seguinte maneira: o paciente toma um comprimido na quarta e outro no sábado. Ou seja, em dois dias da semana.

"Isso é possível porque a tadalafila tem uma meia-vida longa. Em outras palavras, é um fármaco que demora mais tempo circulando no organismo", explicou Misael, que acrescentou: "Só a prática clínica vai nos dizer se é melhor prescrever a dose diária de 5 mg ou a dose de 20 mg em dois dias na semana". O especialista ainda frisa que, ao analisar a equação custo/benefício, é possível saber se o comprimido de tadalafila diário será a primeira escolha quando o paciente precisar fazer uso de remédio para controlar a disfunção erétil.

Nesse sentido, vale informar que, antes de prescrever qualquer fármaco, a medida inicial é orientar o paciente e sua parceira, já que muitas das vezes o desconhecimento da própria sexualidade e o conflito do casal podem ser o agravante do problema.

A segunda medida a ser tomada são as modificações do estilo de vida, que fazem o paciente ter hábitos mais saudáveis, como realizar atividade física regular, cessar o tabagismo, reduzir a ingestão de bebida alcoólica, reorganizar a dieta e adotar um peso ideal, assim como rever as medicações que estão em uso para tratar outros problemas de saúde.

É fundamental ainda orientar o homem com impotência sexual a não fazer uso da automedicação, o que pode piorar o problema. "Uma vez iniciado um tratamento à base de tadalafila de uso diário com recomendação médica, o paciente só deve parar quando o especialista achar viável", informou Luiz André Magno, que complementa: "Mesmo se o homem viajar e passar um período longe da parceira, não pode deixar de tomar o remédio". Essa continuidade, por exemplo, faz com que ele fique coberto quando chegar de viagem e permaneça a ter relações sexuais sem problemas.

A outra dosagem de 20 mg de tadalafila também não deve ser tomada sem que o homem converse antes com um médico, já que existem efeitos colaterais. Além disso, o fármaco não pode ser usado conjuntamente com os nitratos, que são medicamentos utilizados para tratar a angina do peito. Essa recomendação ainda vale para os concorrentes da tadalafila: a sildenafila e a vardenafila.

Disfunção erétil pode ser um importante marcador

O diagnóstico da disfunção erétil é clínico - ou seja, o paciente conta para o médico que tem o problema. Hoje, para a investigação básica da impotência, preconiza-se dosar a testosterona (hormônio masculino), a glicose  e o colesterol. Dependendo da situação, outros exames são solicitados.

"Aos 50 anos, cerca de 25% dos homens apresentam algum déficit de deficiência hormonal. E o conjunto de sinais que indica o problema é a perda da libido ou diminuição do interesse sexual", salientou o endocrinologista Ricardo Meirelles, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), durante o Endócrino 2010.

"Esse cenário nos leva a uma preocupação em relação ao elo entre disfunção erétil e doenças cardiovasculares. Afinal, a impotência sexual pode ser um prenúncio de problemas cardíacos", argumentou o endocrinologista. Ele exemplifica que há casos em que a disfunção erétil aparece e, após três anos, vêm o infarto e a angina.

"Nesse sentido, as medicações para tratar a impotência sexual podem ter também efeito positivo diante do controle das doenças cardiovasculares", continuou Ricardo Meirelles, que acredita ser absolutamente necessário o médico de qualquer especialidade investigar a presença de disfunção erétil entre os pacientes, mesmo que a consulta não tenha o objetivo de analisar a saúde sexual.

"Já fizemos uma enquete entre os sócios da SBEM sobre essa questão. Infelizmente, na época, aproximadamente 30% deles admitiram que nunca questionaram os pacientes sobre impotência sexual. Acredito que esse cenário esteja mudando por causa dos cursos de atualização que a sociedade tem promovido", disse o presidente da SBEM.

Informações importantes

- No Brasil, a utilização da tadalafila diariamente foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 25 de janeiro deste ano, mas só agora começa a chegar nas farmácias.

- Segundo a fabricante Ely Lilly, o tratamento com um comprimido diário deixa o homem apto para o sexo dia e noite, quando for o melhor momento para ele e sua parceira, fazendo com que ambos esqueçam a disfunção erétil e retomem a vida sexual. O resultado disso é a espontaneidade.

- Estudos clínicos realizados com 472 homens em vários países, incluindo o Brasil, com até dois anos de acompanhamento, comprovaram a tolerância e a eficácia da terapêutica diária para o tratamento de pacientes com o problema. Os resultados obtidos demonstraram que homens com impotência sexual tratados diariamente com 5 mg de tadalafila durante um e dois anos relataram uma baixa incidência de reações adversas, bem como a melhora da função erétil. Em alguns pacientes, a eficácia tem sido observada no segundo dia de administração diária. Embora, uma dosagem contínua do medicamento no organismo seja obtida em cerca de cinco dias.

Dados sobre disfunção erétil

- Especialistas acreditam que até 90% dos casos de disfunção erétil estão relacionados a uma condição física ou médica como diabete, doenças cardiovasculares e tratamento de câncer de próstata.

- E até 20% da impotência sexual podem ser predominantemente por causa de condições psicológicas. Em muitos casos, entretanto, fatores psicológicos e físicos contribuem para a condição.

- Em recente levantamento feito com 5.653 homens atendidos em 12 cidades (incluindo o Recife), entre março e junho de 2010, pelo Movimento pela Saúde Masculina, projeto itinerante da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) apoiado pela Eli Lilly, foi possível concluir que 1.971 (35%) alegaram sofrer com algum grau de disfunção erétil. Desses, 2% tinham entre 18 a 30 anos; 19% entre 31 a 45 anos; 48% entre 46 a 60 anos e 31% tinham 61 ou mais.