Ficar de mal do cigarro faz bem (2)

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 29/08/2010 às 3:27

Como disse anteriormente, este post será dedicado às mulheres que conseguiram dar um basta no tabagismo. Conversei com três vitoriosas que me contaram como foi a trajetória do abandono das tragadas. Em todos os depoimentos, escutei relatos otimistas de pessoas que realmente se conscientizaram e tomaram a decisão por si próprias de parar de fumar. Ou seja: não foram terceiros que fizeram pressão para elas se conscientizarem e passarem a detestar o cigarro. Por sinal, as três me disseram que continuam a gostar dele, mas não o tem mais como companheiro. Que bom, não é? Acompanhem a história de cada uma delas.

- Tatiana Marques, 50 anos, cerimonialista, empresária e professora universitária. Largou o cigarro há dois anos

"Fumei meu primeiro cigarro aos 13 anos e, aos 15, já estava completamente viciada. No dia em que completei 48 anos, veio à minha mente que estava perto de eu deixar de fumar. Comecei a me estimular a partir dessa data. Eu era uma fumante de duas carteiras por dia. Lembro que, certa vez, comprei as duas e vi que não tinha sequer um cigarro à noite. E aí, me senti irresponsável com a minha vida e a minha saúde. Fiquei incomodada com isso e, ao mesmo tempo, gostando de fumar. Sobre o meu processo de parada, digo que foi aos pouquinhos, juntado um pouquinho de vários métodos que hoje conhecemos. Admito que só conseguir deixar esse hábito porque partiu de mim a consciência de que era preciso parar. Vi que, para largar o tabagismo, eu tinha que tomar atitudes que me afastassem do cigarro. Foi o que eu fiz. Em primeiro lugar, coloquei uma placa no escritório que avisava: 'Tentando fazer deste lugar um ambiente livre do fumo. Se puder, colabore'. E deu certo. Todas as pessoas respeitaram. Outra atitude boa foi me estimular a ficar duas horas sem fumar depois de sair da academia pela manhã. Nesse intervalo, eu me obrigava a entrar rapidamente no escritório para ficar envolvida com as atividades. E então passei a ficar até a hora do almoço sem fumar. Como faço essa refeição tarde, por volta das 14h30, passava um bom tempo longe do cigarro. Nesse trabalho de terapia interna, consegui passar de duas carteiras por dia para uma carteira em oito meses. Quando ia a restaurantes, procurava ficar em lugares em que fosse proibido fumar. Era como se eu colocasse uma meta a cada dia, sabe?!? Quando estava chegando perto do meu objetivo, eu só estava fumando de quatro a cinco cigarros por dia.

E gosto de dizer que, durante todo esse processo, a minha filha Maria Paula Marques Macêdo, 16 anos, me deu total apoio. Ela não me tratava como uma pecadora, e isso foi fundamental para eu ir até o fim. Nessa trajetória a médio prazo, me lembro de pessoas que diziam para eu parar de vez, mas não é assim. O fumante que está em processo de deixar o tabagismo tem crise de abstinência, e comigo não foi diferente. Passei por vontade intensa de fumar, por uma insônia que consegui controlar com medicação, por choros sem motivos aparente... Mas ainda bem que tudo isso passou, e eu completei dois anos sem fumar no último dia 19 de agosto, quando me dei um presente: abri uma garrafa especial de vinho da minha adega e comemorei. Pelo o que vivi, digo que parar de fumar não é fácil. Exige muito da gente. E precisamos nos afastar de quem não acredita que conseguiremos vencer o vício. Agora, me sinto mais saudável e mais disposta. É tão bom subir lances de escada e não se cansar tanto... Por tudo o que consegui, agradeço sempre a Deus. E até hoje, quando bate a vontade de fumar, eu penso que é mais um dia sem o cigarro. Isso me estimula a continuar cada vez mais forte."

- Priscilla Carvalho, 30 anos, produtora. Largou o cigarro há quatro meses

"Comecei a fumar por brincadeira, aos 17 anos. Fui estimulada por amigos que já fumavam. Antes de parar de vez, já havia tentado uma vez por conta própria mesmo porque descobri que estava grávida. Também fiquei longe do cigarro no período em que estava amamentando. Esse período durou cerca de um ano e dois meses. Mas tive uma recaída e passei a fumar novamente. Voltei a beber e claro que o cigarro não podia faltar também. Fumava então só quando bebia e, quando me dei conta, já estava fumando frequentemente de novo. Em abril deste ano, passei cinco dias internada no hospital por causa de uma crise renal. Aí, tive que ficar sem o cigarro. Foi quando decidi parar de vez. Admito que deixar o vício é muito difícil. É preciso muita força de vontade e determinação. O maior obstáculo, para mim, foi permanecer sem fumar durante o estresse do meu trabalho. Como sou produtora, vivo resolvendo problemas. E o cigarro era o momento da parada para achar as soluções para as broncas que apareciam. Ah, e nos momentos de tranquilidade, o cigarro também se transformava num companheiro. Mas essas minhas atitudes não existem mais. Voltei a sentir o real sabor das comidas. E subo os degraus das escadas sem cansar. Ainda hoje, vejo como alguns não-fumantes são chatos. Claro que é sempre válido ajudar, mas quem fuma não dá muitos ouvidos não. O parar de fumar tem que vir do próprio fumante. Ele tem que decidir que realmente deseja parar. Para quem pretende largar o vício, digo que o cotidiano sem cigarro é muito melhor. Fumar é muito bom, eu sei. Não vou ser hipócrita de dizer o contrário, mas não fumar gera uma outra vida bem melhor que a gente esquece que já viveu. Sem o tabagismo, a gente não cansa, tem fôlego, sente o real sabor das comidas e não fede a cigarro o dia inteiro. Como é bom!"

- Danyelly Farias, produtora, 28 anos. Largou o cigarro há três anos

"O tabagismo entrou na minha vida aos 13 anos por curiosidade e porque eu achava bonito. Comecei só fumando quando saía à noite e, depois, tornou-se um hábito frequente. Durante a semana, eu usava uma carteira por dia. Nos fins de semana, poderia chegar a três. Chegou o dia em que quis me submeter a uma cirurgia nas mamas. Para isso, tinha que ficar um mês antes e um mês depois sem dar nem um traguinho. Para conseguir, eu precisei tomar remédios por indicação médica. Diante dessa condição, achei melhor parar logo de vez de fumar. Foi difícil para mim: fiquei nervosa e não sabia o que poderia substituir o cigarro, principalmente depois do almoço, quando tinha como costume fumar. Mas isso só aconteceu nas primeiras semanas. Depois, passou. Sem os sintomas da abstinência, fiquei mais estimulada a permanecer sem o cigarro. Não engordei porque substitui o hábito por balinhas, e não por comidas e mais comigas. Entre todos os benefícios, o mais legal para mim é sentir meu cabelo cheiroso o dia inteiro. Hoje, também não tenho mais aquela tosse constante do cigarro. Para quem deseja parar de fumar, eu recomendo experimentar ficar sem o vício. Os prazeres que isso traz compensam a falta das tragadas."