Esclerose múltipla não é demência

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 25/08/2010 às 17:30

Quando era adolescente, achava que esclerose múltipla (EM) era a mesma coisa que demência, doença que geralmente aparece em algumas pessoas idosas e que se manifesta, primeiramente, por problemas na memória e dificuldade para novos aprendizados.

Como me enganei, hein? De uns sete anos pra cá, é que fui entender que EM é uma enfermidade neurológica que pode aparecer na fase mais produtiva da vida, entre 20 e 40 anos. Pois é, nada tem a ver com o envelhecimento.

Infelizmente, cerca de 70% dos brasileiros têm hoje o mesmo conceito que eu tinha há alguns anos. Eles confundem esclerose múltipla com demência. Essa é uma constatação de uma pesquisa fresquinha realizada pelo Ibope com 1.026 pessoas em todo o País.

O levantamento, realizado com apoio da Biogen Idec (companhia de biotecnologia líder em pesquisa e desenvolvimento de novas terapias para o tratamento da esclerose múltipla), revela também uma triste realidade: o desconhecimento e a falta de informação em relação à doença. E isso leva, muitas vezes, ao diagnóstico tardio de um problema que pode se manifestar em adultos jovens.

Que se abra um parêntese: a EM é uma doença crônica do sistema nervoso central, que provoca inflamação e destruição da bainha de mielina (estrutura que envolve o neurônio, facilitando a transmissão dos impulsos nervosos). O problema pode resultar em incapacidade física, fadiga e déficit cognitivo. No Brasil, estima-se que 30 mil pessoas convivam com essa enfermidade.

"Sabemos que o paciente tenta vários médicos antes de ser encaminhado ao neurologista", explica o médico Rodrigo Barbosa Thomaz, do Centro de Atendimento e Tratamento da Esclerose Múltipla (Catem) da Santa Casa de São Paulo. "As dúvidas são muitas, principalmente em relação à vida depois do diagnóstico", completa.

Vale destacar que os principais sintomas da EM incluem: formigamento e/ou dormências nos braços ou pernas, alterações visuais, desequilíbrio, diminuição da força, urgência urinária e comprometimento cognitivo. Acho importante avisar que são sinais que podem ser confundidos com outras doenças e, por isso, consultar um médico especialista se faz absolutamente necessário para um melhor esclarecimento.

 "O diagnóstico precoce é fundamental para o tratamento. A esclerose múltipla, em muitos casos, é progressiva, mas pode ser controlada. A maioria dos pacientes poderá viver por mais de 15 anos sem sintomas importantes, trabalhando ou estudando normalmente", explica o neurologista Marcos Alvarenga, do Centro de Referência para o Tratamento da Esclerose Múltipla do Hospital da Lagoa, no Rio de Janeiro.

Como o depoimento dele conforta e estimula os portadores, não é? E Dr. Marcos ainda acrescenta: "O diagnóstico não é uma sentença de morte, pois a doença tem controle e tratamento com muitas das medicações já disponíveis pelo Sistema Único de Saúde (SUS)".

Tratamento e novas tecnologias 

Atualmente, as opções terapêuticas disponíveis para esclerose múltipla incluem principalmente medicamentos que buscam controlar os sintomas da doença, evitando os surtos (quando o paciente tem, por exemplo, uma dormência nas mãos, pés ou dificuldade acentuada de mobilidade, com duração de mais que 24 horas).

Entre os remédios, estão os imunomoduladores, substâncias que atuam no sistema imunológico, regulando sua atividade inflamatória, como a betainterferona e os corticóides - estes últimos usados apenas nos momentos de surto da doença. 

Mais recentemente, foi aprovado o natalizumabe, primeiro anticorpo monoclonal (proteína produzida para reduzir a atividade inflamatória, bloqueando a entrada dos leucócitos no sistema nervoso central) para o tratamento da esclerose múltipla.

O novo medicamento apresenta redução de 80% nos surtos e de novas lesões no cérebro provocadas pela evolução da doença. O natalizumabe é aplicado uma vez a cada quatro semanas por via endovenosa contra os esquemas diários ou semanais dos imunomoduladores. Bom saber que é mais uma facilidade importante para o tratamento.

* Com informações da Tino Projetos em Comunicação