Gripe e resfriado são doenças diferentes

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 24/08/2010 às 14:00

Por muito tempo, antes de começar a trabalhar com jornalismo em saúde, usei a palavra gripe como sinônimo para resfriado. Ou melhor, achava que qualquer "atchim!" era gripe. Aí, fazendo uma matéria aqui; outra acolá, aprendi que ambas são infecções respiratórias que têm sintomas diferentes, principalmente na intensidade deles. O ponto em comum é que são doenças causadas unicamente por vírus.

Mas nem todo mundo sabe disso. E por não conhecer as diferenças, acabam fazendo uso da automedicação e piorando ainda mais sinais de problemas sérios, que precisam ser acompanhados por um médico. Essa foi apenas uma das constatações da pesquisa inédita Saúde respiratória e do pulmão, encomendada ao Datafolha pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) e divulgada neste mês.

Entre as principais conclusões, destaca-se o fato de mais de 70% da população desconhecer como se chega ao diagnóstico da gripe. Também foi muito alto o índice de pessoas que confessam se automedicar e fazer uso de receitas caseiras na tentativa de sanar o problema, que pode até levar à morte, como é o caso da gripe H1N1.

Tanto a gripe, como o resfriado, segundo a médica Jussara Fiterman, presidente da SBPT, são infecções respiratórias causadas unicamente por vírus. "A maior prevalência no inverno é justificada pelo aumento da aglomeração de pessoas em locais menos ventilados, facilitando a disseminação do vírus e consequente contaminação", ressalta.

No entanto, 81% dos entrevistados acreditam erroneamente que as doenças podem ser causadas ou agravadas pelo clima frio ou úmido. Também houve quem dissesse que o problema está no ar-condicionado (54%), pó ou poeira (50%), poluição (38%) ou cigarro (29%).

Para o médico Roberto Stirbulov, presidente-eleito da SBPT, algumas das respostas equivocadas da população sugerem mais do que desinformação. "Dados como esses levam a crer que as pessoas possam estar confundindo a asma ou a rinite com gripe ou resfriado. São portadores de doenças crônicas que acreditam que, a cada episódio, estejam contraindo um novo resfriado."

Devido à grande desinformação sobre as diferenças entre gripe e resfriado, o levantamento considerou ambas as doenças como se fossem uma única, embora não sejam. "A gripe, assim como o resfriado, pode ser causada por diferentes tipos de vírus. O mais importante, no entanto, é que a população saiba que a grande diferença entre as doenças está na gravidade", informa a médica Marina Lima, diretora-científica da SBPT.

Ela acrescenta que a gripe tem os sintomas mais severos, trazendo mais desconforto ao paciente. "E é mais perigosa e pode levar a sérias complicações, como à necessidade de internação e, inclusive, à morte." Além de evitar aglomerações e ambientes pouco ventilados, a correta higienização das mãos é essencial para redução da contaminação.

Sintomas e tratamento

Gripe e resfriado têm sintomas e tratamentos específicos. O resfriado é o mais comum, não é grave e dura aproximadamente quatro dias, além de possuir como sinal característico a coriza. Também pode haver queixa de obstrução nasal, tosse, espirros, dor de cabeça, dor de garganta e febre baixa.

A gripe é mais grave e costuma durar mais de uma semana. Além dos sintomas do resfriado, causa febre alta, dores pelo corpo e fadiga. Outras consequências menos frequentes são sinusite, otite média, descompensação da diabete, agravamento de doenças pulmonares crônicas, insuficiência e/ou arritmias cardíacas.

Alguns dos principais sintomas, comuns a ambas doenças, foram citados na pesquisa, como febre/calafrio (50%), tosse (43%), coriza (45%), indisposição (45%). No entanto, outros sintomas que não estão relacionados às doenças também foram registrados pelos pesquisadores, tais como falta de ar, chiado no peito, falta de apetite e emagrecimento.

Automedicação é um perigo

O diagnóstico da gripe ou do resfriado é essencialmente clínico, realizado em consultório médico, através de exame físico e de uma conversa com o especialista sobre as queixas do paciente. Um fato alarmante foi que 36% dos entrevistados não souberam dizer como se pode detectar a doença.

O grave problema da automedicação no Brasil também foi constatado na pesquisa. Um total de 43% das pessoas afirmaram tomar medicamentos como antigripais, antitérmicos, analgésicos e injeções por conta própria. As receitas caseiras, como sopas, chás, mel ou xaropes feitos artesanalmente são a solução encontrada por 39% dos entrevistados. Apesar de a maioria concordar com a afirmação "quando uma pessoa pega gripe, ela deve procurar um médico", apenas 19% o fizeram nos últimos 12 meses.

"Os remédios só devem ser prescritos por médicos. Caso contrário, o uso inadequado pode elevar o nível de resistência bacteriana na população, aumentando a gravidade de futuras infecções respiratórias causadas por bactérias", diz Roberto Stirbulov, que continua: "Na maioria dos casos de gripes e resfriados, a administração de antibióticos não é indicada".

Quem é o pneumologista?

Os resultados da pesquisa revelarem que 29% das pessoas não sabem a que especialista recorrer em caso de gripe. O clínico geral foi o mais citado, com 59% das respostas. Enquanto que o pneumologista, especialista em doenças do sistema respiratório, como a gripe, recebeu somente 5% das citações.

A SBPT informa que uma confusão grande é associar o pneumologista só às doenças do pulmão. Mas o médico pneumologista trata de todo o trajeto que o ar percorre na respiração e que pode ser prejudicado por doenças como asma, rinite, tuberculose, gripe, resfriado, câncer de pulmão, pneumonia, além de outras menos conhecidas, como a fibrose cística, DPOC ou hipertensão pulmonar.

Vale destacar que a pesquisa foi feita com 2.242 brasileiros com 16 anos ou mais, pertencentes a todas as classes econômicas de 143 municípios

* Com informações da Acontece Comunicação e Notícias