O que fazer para a garotada dar tchau ao sedentarismo?

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 23/08/2010 às 1:00

Dia desses, tomei conhecimento de um estudo publicado no Cadernos de Saúde Pública (revista mensal publicada pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca - Fundação Oswaldo Cruz) que me levou a uma série de questionamentos. A pesquisa, feita com mais de quatro mil adolescentes de 14 a 19 anos, matriculados na rede pública estadual de Pernambuco, constatou que 43% dos jovens são fisicamente inativos nos deslocamentos para o colégio. Ou seja, os pesquisadores perceberam que, para fazer o trajeto casa/escola e escola/casa, os estudantes não caminham nem usam bicicleta. Preferem ir de ônibus, carro ou moto.

(Clique aqui para ler o artigo em questão)

Sabe que, para mim, isso não foi uma surpresa? Primeiramente porque a falta de segurança que ronda as metrópoles assusta os pais, que orientam os jovens a não usarem mais bicicleta na cidade. Vejo que muitos só pedalam pelas áreas externas dos condomínios e das casas de veraneio, pelo campo e pela praia. E o mesmo risco imposto pela desproteção existe para a garotada que vai caminhando até a escola.

Nunca vou me esquecer das vezes em que saia do Colégio Nóbrega e passava pelo Beco do Estudante, no centro do Recife, para pegar um ônibus e ir para casa. Afe! Eu morria de medo. Nunca ia sozinha; sempre com alguma amiga. Ainda me lembro que, no trajeto Colégio São Luís / casa, meu irmão foi assaltado na Ponte da Torre. E olha que esses fatos aconteceram há mais de dez anos. Imagina agora que a sensação de desamparo que temos nas ruas é bem maior?

Ao ler o estudo também passei a refletir sobre o peso das mochilas desses adolescentes. A gente sabe que, hoje em dia, essa turma carrega apostilas grossas, cadernos imensos, livros e mais livros nas costas. Como dá para pedalar desse jeito durante o percurso até o colégio? Só se for colocada uma cestinha na bicicleta... Ir a pé carregando tanta coisa na bolsa também é complicado.

Eu sei que o sedentarismo que toma conta das crianças e dos adolescentes atualmente preocupa. E essa inatividade, aliada a hábitos alimentares impostos pelas redes de fast-food, por exemplo, tem deixado essa geração exposta a problemas de saúde como obesidade, diabete tipo 2 (aquela que geralmente aparecer por causa de um estilo de vida pouco saudável) e dislipidemia (taxas irregulares de colesterol e triglicérides).

É claro que, se esses jovens fossem ativos no caminho até a escola, a saúde deles agradeceria. Mas se a violência a que estamos expostos não permite essa liberdade, acho que a garotada pode ser estimulada a fazer atividades físicas em outros momentos. E estimular não é só dizer a essa turma tem que é necessário praticar algum exercício. Os professores de educação física precisam fazer uso de artimanhas que deixem os jovens se envolver pela prática desse trabalho.

E a família também deve fazer a sua parte. Lembro que, quando eu era criança, poderia brincar de amarelinha e esconde-esconde sempre que terminava a lição. Hoje em dia, a garotada cai diretamente na tentação do PlayStation. E se deixar, essa turma fica o dia inteirinho assim.

Que tal os pais estimularem desde cedo os filhos a se engajarem em programas que deixam de lado o sedentarismo? Talvez se a escolinha de futebol e as aulas de balé passarem a ser vistas com mais responsabilidade, a criança toma gosto e adota essas atividades como um lazer. Sei que não é uma tarefa fácil. Mas é melhor a gente, pelo menos, tentar incentivar dessa maneira do que deixar os jovens ficarem amigos da inatividade e da má alimentação.