Quem tem Alzheimer quer ganhar muita atenção

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 29/07/2010 às 17:31

Eu não lembro exatamente o dia em que desconfiei que minha avó paterna poderia estar desenvolvendo Alzheimer - doença que, neste ano, deve chegar a acometer mais de 35 milhões de pessoas no mundo, segundo o relatório mundial da doença lançado no ano passado. Hoje, no Brasil, há mais de um milhão de pessoas com essa enfermidade, que aparece com maior frequência a partir dos 65 anos e acomete inicialmente a parte do cérebro que controla a memória, o raciocínio e a linguagem.

Como em muitos casos, sei que vovó teve primeiramente afetada a memória recente. Ou seja, começou a apresentar dificuldades para guardar o que se viveu ou aprendeu há menos tempo. E aí, eu pensava: "Como assim ela pode estar com Alzheimer? Logo vovó que sempre teve uma vida tão ativa e produtiva?!? Estudou, formou-se, trabalhou, aposentou-se, criou filhos e netos...". Mas imediatamente me lembrei que essa doença ainda é um dos calcanhares-de-aquiles da neurociência. Isso significa dizer que a medicina ainda não chegou a um consenso em relação aos mecanismos que estão por trás dessa patologia, nem mesmo o que a causa.

Nesse sentido, veio logo à minha mente um lema bem trabalhado pela Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz): "Não há tempo a perder". Afinal, quanto mais precoce o diagnóstico e mais cedo for iniciado o tratamento, maiores são as chances de se oferecer uma vida digna a quem tem Alzheimer. Na dúvida, nossa família achou importante levar vovó para fazer uma avaliação médica. Depois de muitos exames e conversa com o geriatra, o diagnóstico foi confirmado. Claro que foi uma situação desconfortável, mas o médico nos deu muitas orientações e nos ensina sempre sobre essa doença que é progressiva, mesmo sendo tratada.

Um detalhe importante, que aprendi há poucos meses, fez muita diferença para que eu pudesse entender melhor a doença. Liguei para o geriatra e perguntei por que vovó se mostrava tão ativa pela manhã (em alguns momentos, nem parecia ser portadora de Alzheimer), mas ficava aérea e instrospectiva da tarde para a noite. Sem titubear, ele disse: "Nos pacientes com demência, é comum a síndrome do pôr-do-sol, caracterizada por retração, pouca vontade de fazer as atividades, letargia, sonolência e tristeza". Pesquisando mais, vi que a síndrome do pôr-do-sol também pode dar as caras de outra maneira, através da agitação e agressividade.

Mas essas características não são um padrão para todos os pacientes. E nesse ponto, vem a lição mais importante: nem todos os portadores de doença de Alzheimer terão os mesmos sintomas, pois não existe um modelo de evolução para todas as pessoas que convivem com esse tipo de demência. E também não há um manual exclusivo de cuidados. Isso significa dizer que um idoso com a enfermidade não precisa receber o mesmo zelo que outro. Vale salientar, contudo, que três coisinhas são absolutamente necessárias para essas pessoas: carinho, amor e atenção. Ah, sim, essa é uma tríade perfeita e funciona muito bem (em todos os estágios da doença) para estimular esses pacientes a realizarem as atividades diárias.

Quer um exemplo? Quando um idoso, que tem a fase leve de Alzheimer, recusa-se a tomar banho, que tal conversar com ele calmamente explicando como é prazeroso sentir a água do chuveiro caindo na nossa cabeça? Outra dica que pode funcionar é preparar previamente o banheiro, deixando à vista todos os itens necessários, como um xampu que não faz arder os olhos e um sabonete bem cheiroso. Muito importante também é separar e organizar as roupas com antecedência.

E mais: na fase leve da doença, devemos evitar ao máximo fazer todas as ações pelos pacientes. Sabe por quê? Porque eles adoram sentir que ainda têm a autonomia preservada. Hum, como isso faz bem a eles... Devemos estimular, orientar, supervisionar, auxiliar. Em outras palavras, geralmente só no estágio de moderado a avançado da doença, devemos começar a assumir a responsabilidade de dar banho nesses idosos.

Não dá para deixar de mencionar também a dificuldade que as pessoas da família podem ter para entender o comportamento do parente com Alzheimer, que tende a se mostrar desconfiado, agressivo ou implicante. Se isso acontecer, a sugestão é respirar fundo e ter consciência de que o doente não faz isso por mal. A dica é agir com calma, paciência e carinho. Jamais se deve gritar.

E sabe mais? Acho importante a gente oferecer a nossa memória a esses pacientes. Sabe como? Conversando com eles sobre a história que contruíram e continuam a construir. Sim, é bom fazer com que esses idosos relembrem momentos gostosos da vida, mesmo que seja um fragmento passado há muitos anos. Acredito que é uma maneira de estimularmos sempre esses pacientes, trabalharmos a autoestima e fazermos com que eles se sintam totalmente amados sem ser escondidos. Não devemos nos envergonhar das pessoas que têm a doença, tampouco da atitudes que elas possuem. Pelo contrário, devemos é saber que essa enfermidade tem longa duração e que cuidar é uma experiência que não exclui a socialização do paciente com Alzheimer.

* Saiba mais sobre Alzheimer no site da Abraz.